O PODER DA PALAVRA
Lancei aos meus alunos (do 10º ano) o desafio
de escreverem um texto sobre o Poder da Palavra.
Surgiram ideias interessantes.
Sublinhou-se uma certa superstição
em relação à palavra.
Analisaram-se situações
de atribuição de um poder mágico:
acontece algo só porque se pronunciou isto ou aquilo. Essa
crença está presente quando com três batidas em objecto
de madeira se afasta o perigo do que se enunciou por palavras.
Mas este poder mágico
parece desvanecer(-se), quando é necessário referir uma
realidade menos agradável, logo ocultada por perífrases
de carácter eufemístico, mostrando
como as palavras são formas simbólicas
de representação do mundo. Tome-se
por exemplo a lepra como metáfora
de "pecado". Actualmente, o termo "cancro"
embarga a voz e é difícil de pronunciar. Mais uma vez a
magia da palavra ultrapassa a barreira do incomunicável e surgem
as expressões "doença incurável",
"doença que não perdoa", "doença prolongada".
Também no âmbito
da Religião, a palavra parece ter
o seu quê de magia. A Consagração,
no ritual da Missa Católica, serve
de paradigma maior. Mas são também
as palavras que dão voz ao "Senhor que derruba os cedros, que varre
as florestas e faz ecoar os trovões". São as palavras que
criam o Mundo (o Génesis o "prova":
Deus disse... e o Mundo foi feito), que criam a pessoa de Jesus Cristo
(e "o Verbo se fez carne e habitou entre nós"). São essas
mesmas palavras que fazem surgir a imagem de um Deus próximo dos
homens, de um Deus comunicante.
As palavras servem também
para representar um Diabo disfarçado de "Diacho", "Diabro", "Anjo
Mau", "Príncipe das Trevas"...
Mas e o poder das palavras sobre
quem as profere, quem as ouve, quem as lê?
Não existe "repouso" no
poder das palavras,
porque nelas se espelha, se empenha,
se renova o que há de mais profundo
na condição humana.
E como explicar "as
palavras doces", "as falinhas mansas", "o paleio", "o palavreado"?
Poder-se-á falar no poder de sedução
das palavras?
Muitas vezes, elas não
passam de alívio para
quem as diz, de música para o ouvido de quem as escuta,
ou simplesmente, leva-as o vento.
A palavra
aparece no centro dos contos tradicionais ou em situações
de exigência (como forma) de controlo. Todo o "Abracadabra"
ou "Abre-te Sésamo" fechava ou abria mundos -- riquezas. E
os universos (pessoais) que as palavras podem abrir -- ou fechar?
Na sua versão moderna, a "password", a palavra passe. |
Agradecimentos à (professora de Português)
Aida Santos.
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