17 mulheres na
justiça
Quando a
voz do juiz que hoje ler a decisão judicial relativamente
às 17 mulheres acusadas de aborto ilegal ditar a sentença,
estará a fazer-se história em Portugal. É o que defende Francisco
Louçã, do Bloco de Esquerda, e também os membros da Plaforma
Direito de Optar, porque o julgamento da Maia será um marco.
Condenadas ou absolvidas, estas mulheres ficarão na memória
de uma luta que há décadas divide a sociedade portuguesa.
Manifestações e protestos estão marcadas: para a porta do
complexo desportivo da Maia, onde decorre o julgamento por
falta de espaço no Tribunal propriamente dito, para a porta
do Tribunal da Boa Hora em Lisboa e também para Braga. Ontem
foi dia de mobilização e hoje esperam-se reacções um pouco
por todo o país.
Até de Espanha chegam declarações de solidariedade. A Associação
de Clínicas Acreditadas para a Prática da Interrupção Voluntária
da Gravidez (ACAI) relembra um julgamento semelhante que decorreu
em Espanha no ano passado, com condenação dos médicos envolvidos,
para evocar sentimentos de proximidade, geográfica e emocional,
para com as acusadas deste caso. Exigindo a absolvição das
envolvidas neste mega-processo (que conta ainda com mais 26
arguidos), a ACAI pede ainda uma reforma legislativa que contemple
os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.
O Bloco de Esquerda (BE) relembra a situação das cidadãs do
Afeganistão para apelidar este caso de "a burka que ainda
nos cobre o rosto". Em comunicado onde se apela à participação
nas concentrações na Maia e em Lisboa, o BE aponta ainda que
"pior do que a dor só mesmo a arrogância de quem sente a necessidade
de humilhar a dignidade individual e expor a privacidade de
uma mulher. Na Maia foram 17".
Certo é que o debate relativamente à despenalização da interrupção
voluntária da gravidez está novamente na ordem do dia. A par
com as manifestações de solidariedade esperadas à porta do
Tribunal, decorre ainda um processo de pedido de mudança legislativa
relativamente às circunstâncias em que uma mulher pode efectuar
um aborto a seu pedido. PCP e BE aguardam agendamento na Assembleia
da República de propostas legislativas nesse sentido.
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