BREVE RESPOSTA À PERGUNTA:
O QUE É A FILOSOFIA?
A filosofia é uma disciplina intelectual
que utiliza métodos racionais e críticos.
Trabalha com conceitos abstractos, procurando definir princípios
gerais, respondendo às questões fundamentais da vida e da
morte, do sentido da existência, dos valores individuais e sociais,
da natureza da linguagem ou do conhecimento e da relação
que temos com as coisas em si.
Em filosofia, podemos ter bons ou menos bons conceitos, bons ou menos
bons argumentos, mas não podemos encontrar provas irrefutáveis,
porque a filosofia não é uma ciência formal ou empírica
(mesmo sendo o local onde as ciências se cruzam). De qualquer modo,
a filosofia é fundamentalmente uma disciplina racional, ainda que
os seus primeiros princípios não possam ser demonstrados.
A filosofia é múltipla:
não existe uma, mas filosofias, diferentes e muitas vezes opostas
umas às outras. Os filósofos elaboram algumas vezes um sistema
respondendo
sistematicamente, a partir de certos princípios de base (postulados
fundantes considerados evidentes em si), às suas questões
fundamentais (aquelas que são então definidas como sendo
as questões essenciais, porque não existe consenso sobre
essas matérias). Vários o fizeram, como Aristóteles
ou Hegel. Outros não se decidiram por uma aproximação
sistemática, privilegiando sobretudo abordagens
críticas, como Nietzsche ou Derrida. Outros optaram por explorar
uma área especializada da filosofia: filosofia da educação,
da linguagem, da ciência, ética fundamental, estética,
filosofia da psicologia, filosofia na Idade Média, etc.
A filosofia e os filósofos opõem-se constantemente
sobre diversas questões a partir de diferentes princípios
e das consequências que daí retiram. Deste modo a filosofia
é um perpétuo recomeço,
porque no seu seio não podemos encontrar respostas definitivas ou
universalmente válidas. Por outro lado, a filosofia tem uma dimensão
pessoal: cada filosofia exprime o estilo do filósofo que a propôs.
Em filosofia, as operações de base são: informar,
problematizar, conceptualizar, julgar e argumentar. Os seus instrumentos
de trabalho envolvem a análise (análise conceptual, lógica
ou linguística), a síntese, a crítica e a dialéctica
(discussão crítica). Os filósofos não privilegiam
as questões elementares, abordadas de modo directo e vulgar, interessam-se
sobretudo por questões complexas, gerais e mais abstractas, procurando
remeter sempre as perguntas-problema para os seus fundamentos últimos
(valores e escolhas metodológicas fundamentais, postulados ontológicos
e gnoseológicos).
De um modo geral podemos distinguir três
grandes formas de filosofar:
1. A forma rigorosa, analítica, "científica". Ex.:
Bertrand Russel.
2. A forma poética, metafórica, literária.
Ex.: Kierkegaard.
3. Todas as variantes entre estes extremos!
Consideremos a seguinte questão metafísica:
«Porquê existe o ser em vez do nada?» (Leibniz)
Exemplo do processo a seguir...
1.ª hipótese: Analisar
os termos da questão. Eventualmente concluir que ela não
tem uma significação exacta, puramente afectiva ou impossível
de responder, dado que ultrapassa os limites do nosso conhecimento.
2.ª hipótese: Reflectir
sobre o conceito do Ser, do nada (ou do não-ser, ou do vazio) ou
da existência em-si. Sugerir pontos de vista intuitivos sobre o conhecimento
do Ser. Comparar com outras ontologias (talvez para as rejeitar).
3.ª hipótese: Qualquer
combinação entre as hipóteses anteriores, i. é,
um compromisso entre a análise e a especulação.
Geralmente possuímos a priori uma sensibilidade
que nos predispõe para um destes estilos, ou destes métodos.
A nossa relação com a filosofia é uma tarefa essencialmente
pessoal.
Piaget afirmava: «A filosofia é uma fé racional.»
Ela envolve um pouco de religião, um pouco de literatura, um pouco
de lógica e um pouco de ciência, contudo distingue-se nitidamente
de cada um destes discursos. Num certo sentido, somos todos filósofos,
referia Gramsci, mas de um modo incoerente e ingénuo. Estamos rodeados
por diversas ideologias que determinam em parte as nossas percepções,
as nossas concepções, os nossos pensamentos e finalmente
as nossas acções. Temos que nos transformar em filósofos
mais coerentes e mais críticos. É necessário, diz
ainda Gramsci, «tornarmo-nos nos nossos próprios guias».
Hoje a filosofia transformou-se numa disciplina muito especializada
e muito dividida. A sua história é longa e prestigiosa, o
seu conjunto de discursos é considerável e muito diversificado,
os seus métodos são numerosos e complexos, cada área
de investigação está repleta de obras e posições
divergentes. O seu estudo exige muito trabalho e muito rigor. |