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A
acção humana é
o título de uma rubrica da 2ª unidade temática do programa
de Int. à Filosofia (10º ano - 2002/03); a rubrica está
aqui planificada.
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NEM
TODOS OS ACTOS DO HOMEM
Deixando de lado alguns usos puramente técnicos da palavra ‘acção’ (por exemplo, acção como participação no capital de uma empresa), o núcleo significativo da palavra estriba na produção ou causação de um efeito. A palavra ‘acção’ emprega-se às vezes para falar de animais não humanos (diz-se que a acção das cigarras é benéfica para a agricultura) ou, inclusive, de objectos inanimados (diz-se que a gravitação é uma forma de acção à distância ou que a toda a acção exercida sobre um corpo corresponde uma acção igual de sentido contrário).Mas sobretudo usamos a palavra ‘acção’ para nos referirmos ao que fazem os humanos. Aqui só nos interessa este tipo de acção, a acção humana. As nossas acções são (algumas
das) coisas que fazemos. Na realidade o verbo ‘fazer’ cobre um campo semântico
bastante mais amplo que o substantivo ‘acção’. O latim distingue
o agere do facere (aos quais corresponde em português
agir e fazer). Ao substantivo latino actio, derivado
de agere, corresponde o substantivo acção.
Assim, até de um ponto de vista etimológico, ‘acção’
só carreia a carga semântica de ‘agir’ e não propriamente
de ‘fazer’.Tudo quanto realizamos é parte da nossa conduta, mas
nem tudo o que realizamos constitui uma acção. Enquanto
dormimos realizamos muitas coisas: respiramos, suamos, damos voltas, apertamos
a cabeça contra a almofada, sonhamos, talvez ressonemos alto ou
falemos em voz alta ou andemos sonâmbulos pela casa. Todas estas
coisas as realizamos inconscientemente, enquanto dormimos. Realizamo-las
mas não damos conta delas, não temos consciência de
que as realizamos. A estas coisas que fazemos inconscientemente não
lhes vamos chamar acções.Vamos reservar o termo ‘acção’
para as coisas que realizamos conscientemente, dando-nos conta de que
as fazemos. Há, no entanto, coisas que fazemos conscientemente,
dando-nos conta delas, mas sem que à sua realização
corresponda uma intenção nossa. Damo-nos conta dos nossos
‘tiques' e de muitos dos nossos actos reflexos, mas realizamo-los involuntariamente,
constatamo-los como espectadores, não os efectuamos como agentes.
(A palavra ‘agente’ é outra das palavras derivadas do verbo latino
agere). Por algo que sentimos depois de comer damo-nos conta de
que estamos a fazer a digestão. Mas fazer a digestão não
constitui (normalmente) uma acção. Pelos sorrisos dos que
nos observam damo-nos conta de que estamos a ser ridículos. Mas
ser ridículo (praticar actos ridículos) não é
uma acção, mas uma reacção, algo que nos passa
despercebido e que lamentamos (a não ser que o façamos de
propósito, como provocação; neste caso já
seria uma acção). Também não chamamos acção
a esses aspectos da nossa conduta de que nos damos conta, mas que não
efectuamos intencionalmente. No presente estudo limitar-nos-emos às
acções humanas conscientes e voluntárias, às
que daqui em diante chamaremos acções (sem mais).Uma acção
é uma interferência consciente e voluntária de um
homem ou de uma mulher (o agente) no normal decurso das coisas, que sem
a sua interferência haveriam seguido um caminho distinto do que
por causa da acção seguiram. Uma acção consta,
pois, de um evento que sucede graças à interferência
de um agente e de um agente que tinha a intenção de interferir
para conseguir que tal evento sucedesse. (MOSTERÍN, Jesús - Racionalidad y Acción Humana. Madrid : Alianza, 1987, p.141-142, in J. Neves VICENTE - Razão e Diálogo. Porto : Porto Editora, [1997], p. 98) |
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