Procurou-se
seleccionar quadras de António
Aleixo que manifestassem preocupações de natureza filosófica:
reflexões ético-políticas, sobre a relação
eu-outro, sobre a linguagem, sobre a (não) liberdade, sobre a diferença
entre o ser e o parecer...
Foram todas extraídas de
Este
Livro que vos deixo... |
ANTÓNIO
ALEIXO
Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
Tal qual me sucede a mim:
sem ter vulto, sem ter voz,
vive qualquer coisa em nós
que manda fazer assim.
Quem me vê dirá: não presta,
nem mesmo quando lhe fale,
porque ninguém traz na testa
o selo de quanto vale.
Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.
Tu, que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes -- esqueceste
tudo quanto prometias...
Sem que discurso eu pedisse,
ele falou, e eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
do que disse não gostei.
O meu merceeiro é um santo
e há quem diga que ele é mau!
Digo-lhe só: -- dou mais tanto,
já me arranja bacalhau.
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