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Deus é maneta ou canhoto?
 
 

 

AS MÃOS DE DEUS
 


NA MÃO DE DEUS

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

(Antero de Quental)

 
     
 

EN LA MANO DE DIOS
Na mão de Deus, na sua mão direita
ANTHERO DE QUENTAL: Soneto.

Cuando, Señor, nos besas con tu beso
que nos quita el aliento, el de la muerte,
el corazón bajo el aprieto fuerte
de tu mano derecha queda opreso.

Y en tu izquierda, rendida por su peso
quedando la cabeza, a que revierte
el sueño eterno, aún lucha por cogerte
al disiparse su angustiado seso.

Al corazón sobre tu pecho pones
y como en dulce cuna allí reposa
lejos del recio mar de las pasiones,

mientras la mente, libre de la losa
del pensamiento, fuente de ilusiones,
duerme al sol en tu mano poderosa.

(Miguel de Unamuno)

     

A PERIGOSA MÃO DE DEUS

Deus é maneta
diz Saramago
só tem a mão direita
à direita da qual todos se sentam.

Eu canto a outra mão de Deus
a que traz o Diabo pela trela
a que por vezes puxa para o outro lado
e escreve sempre por linhas tortas
a mão esquerda de Deus
a mão de sobra a mão do medo
a mão do nada
a mais perigosa mão de Deus
aquela que de repente solta o espírito
o enxofre a guerra o vento mau.
É a mão esquerda de Deus que aperta o coração
acelera o pulso
desarticula o ritmo.
Os poetas estão sentados à esquerda da mão esquerda
de Deus
até mesmo Antero.

(Manuel ALEGRE - Livro do Português Errante. Lisboa : Publicações Dom Quixote, 2001)

 

 

A propósito do poema de Unamuno, Henrique Jorge escreveu (ver PortAberta, mensagem nº 1556):

Unamuno tinha uma espécie de galeria de poetas mortos com fotografias diversas. Todos eles se tinham suicidado ou falecido de forma abrupta e eram todos (que eu me lembre) portugueses. Mas Antero tinha um papel fulcrar na ideia de Unamuno. Sobretudo numa fase místico-suicida onde se cruzava o muero porque no muero de Santa Teresa y la idea de agonia en la vida. Nesses momentos Unamuno olhava a sua galeria de mortos, que envolvia Antero, Guerra Junqueiro, Camilo, Oliveira Martins e, talvez, mais algum de que não me lembro agora. Estão todos num escaparate, em frente à sua secretária, na casa rectoral em Salamanca.

Leia ainda:
||| Nos verbetes Miguel de Unamuno e Antero de Quental do Lexicon encontra outros dados sobre o pensador espanhol e o poeta português (incluindo ligações a outras páginas).


 
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