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O mocho
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GLOSSÁRIO

Bailada ou bailia - uma espécie das cantigas de amigo. É uma toada muito simples para bailar, na qual se faz geralmente menção expressa da dança (de que é, afinal, a letra que acompanhava a melodia). O carácter musical das bailadas é realçado pelo estribilho ou refrão, bem como pelo paralelismo e ligação das estrofes e o sistema assonante das rimas.

Velida - formosas, lindas

so aquestas avelaneiras frolidas - sob estas avelaneiras floridas

Verrá - virá

Loadas - do verbo loar=louvar pela sua beleza

Granadas - em flor
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 
CANTIGAS DE AMIGO
 

-- duas bailias


(É notável a semelhança entre as duas cantigas. Em ambas um ambiente rural e florido, convidativo ao amor e à alegria exteriorizada pelo e no baile)


I

Bailemos agora, por Deus, ai velidas[1],
so aquestas avelaneiras frolidas[2],
e quem for velida como nós, velidas,
                se amigo amar,
so aquestas avelaneiras frolidas
                verrá[3] bailar.

Bailemos agora, por Deus, ai loadas,
so aquestas avelaneiras granadas,
e quen for loada como nós, loadas,
                se amigo amar,
so aquestas avelaneiras granadas
                verrá bailar.
 

João Zorro (séc. XIII)
 
 

II

Bailemos nós já todas três, ai amigas,
so aquestas avelaneiras frolidas[2],
e quem for velida como nós, velidas,
                se amigo amar,
so aquestas avelaneiras frolidas
                verrá[3] bailar.

Bailemos nós já todas três, ai irmanas,
so aqueste ramo destas avelanas;
e quen for louçana, como nós, louçanas,
                se amigo amar,
so aqueste ramo destas avelanas
                 verrá bailar.

Por Deus, ai amigas, mentr'al non fazemos,
so aqueste ramo frolido bailemos;
e quen ben parecer, como nós parecemos,
                se amigo amar,
so aqueste ramo sol que nós bailemos,
                 verrá bailar.
 

Airas Nunez de Santiago (séc. XIII)

 



O interesse pelas (e os temas das) cantigas de amigo (e de amor...) tem-se manifestado ao longo da História (da Literatura) Portuguesa. No século XX,
 
  • José Afonso, cujas letras também devem ser analisadas em ligação à música, musicou a bailia de Airas Nunes [álbum Contos Velhos Rumos Novos, 1969]

  •  
  • José Régio escreveu À beira do rio... Ary dos Santos, Cantiga de Amigo. Natália Correia tem também cantares dos trovadores. E Manuel Alegre. E Eugénio  de Andrade.


  • NOTAS


    Paralelismo
    A cantiga de amigo "é uma paralelística perfeita ou pura. Nestas cantigas, os vários elementos versificatórios -- pausas, ritmo e rima -- estão subordinados a um jogo de simetrias, em que predomina a repetição, como princípio estruturador. Assim, a cantiga é constituída por dois coros que cantam alternadamente, mas o segundo coro repete, pelo processo do leixa-pren, a estrofe cantada pelo primeiro coro, com alteração da palavra rimante, pois alternam as rimas assonantes, em i e a (amigo/amado; saído/passado, etc.). E cada coro retoma, no início de nova copla, o último verso que cantara, repetindo-o integralmente, e acrescenta novo verso, a seguir repetido pelo mesmo processo. A cantiga paralelística pura é formada de três pares de coplas. Eis, esquematicamente representada, a técnica paralelística: ABr/A'B'r'/BCr/B'C'r/CDr/C'D'r; ou, transcrevendo de outro modo: aa'R/bb'R/a'a''R/b'b''R... O refrão acentua a sugestão musical da cantiga e, geralmente, é sintáctica e semanticamente independente do corpo da copla, embora, portador de valor imagístico, concretize o estado de alma da moça ou defina o tema da cantiga."

    (Maria Ema Tarracha Ferreira, Poesia e Prosa Medievais)

    Paralelismo perfeito e imperfeito - diz-se imperfeito o paralelismo que está isolado em cada par de estrofes, sem qualquer ligação aos outros pares (ver, por exemplo, a bailia de Airas Nunez, paralelística imperfeita, constituída por três coplas , cada qual com uma quadra de rima monórrima e um refrão em dístico -- o 1º verso do refrão está intercalado entre o 3º e o 4º versos da quadra -- de quadrissílabos agudos).

    Leixa-pren - processo pelo qual se retoma no início de uma copla o último verso da estrofe anterior, embora alternando as últimas palavras.


     
     
    mocho, símbolo da Filosofia

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