PROVA 114
EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO
12.° Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.° 286/89, de 29 de Agosto)
Cursos Gerais - Agrupamentos 3 e 4
Duração da prova: 120 minutos
1.ª FASE
2003
1.ª CHAMADA
PROVA ESCRITA DE FILOSOFIA
[Prova]

COTAÇÕES E CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO

    A INDICAÇÃO DO NÚMERO DE LINHAS/PALAVRAS VISA APENAS ORIENTAR O ALUNO RELATIVAMENTE AO GRAU DE DESENVOLVIMENTO DA RESPOSTA, PELO QUE NÃO SE PROPÕE QUALQUER PENALIZAÇÃO PARA O NÃO CUMPRIMENTO DESSA INDICAÇÃO.

 

Por ser um texto demasiado grande, dividimos os critérios em dois ficheiros, de acordo com os grupos de questões. Aqui trata-se o 1º grupo, mas pode aceder a ambos através do menu seguinte:

Grupo I

Grupo II


 

 

GRUPO I
Questões 1. e 2.

CRITÉRIOS
PONTUAÇÃO
Rigor da análise do excerto apresentado
10 pontos
Coerência lógica da resposta
7 pontos
Utilização precisa da terminologia filosófica
4 pontos
Correcção da expressão escrita
4 pontos
TOTAL
25 pontos
TOTAL das Questões 1. e 2
(2 x 25) = 50 pontos
  • A inadequação da resposta à questão formulada implica uma pontuação de O (zero) pontos.
  • A mera transcrição de frases do texto implica uma pontuação de O (zero) pontos.


Questão 3.

CRITÉRIOS
PONTUAÇÃO
Adequação dos conhecimentos mobilizados
35 pontos
Coerência lógica da resposta
15 pontos
Utilização precisa da terminologia filosófica
10 pontos
Correcção da expressão escrita
10 pontos
TOTAL da Questão 3.
(1 x 70) = 70 pontos
TOTAL DO GRUPO I
120 pontos
  • A inadequação da resposta à questão formulada implica uma pontuação de O (zero) pontos.
  • Se a resposta não manifestar conhecimento da obra, a pontuação será de O (zero) pontos.

 

Tópicos de conteúdo:

 

DA NATUREZA, Parménides

    1. Defender a descontinuidade do ser implicaria defender uma diferença. Pode o que é estar cerca de algo diferente? Afirmá-lo seria contraditório. Portanto, a descontinuidade implicaria uma contradição, pelo que o ser é contínuo.
    2. A imagem sintetiza a exclusão de todas as formas de mobilidade. Geração, destruição, alteração interna implicariam a afirmação do não-ser ou a afirmação do ser como ser e não-ser, afirmações que a «convicção verdadeira» repele por princípio.
    3. As duas vias do pensamento. A impossibilidade do não-ser e a ilegitimidade da via da opinião (o devir supõe a afirmação do não-ser).
      A decisão do pensamento pela fidelidade aos seus princípios assegura a unidade de pensamento, verdade e ser.
      A eficácia da via da verdade - a dedução dos atributos do ser.
      Deduzidos os atributos do ser, é difícil enquadrar a via da opinião no todo do pensamento de Parménides.

GÓRGIAS, Platão

    1. Querefonte quer saber qual é a arte que Górgias cultiva, isto é, quer uma definição de retórica. Polo, em vez de responder à questão de Querefonte com uma definição, como o procedimento dialéctico exigiria, limitou-se, à maneira dos oradores, a elogiar a retórica, dizendo que era a mais bela das artes.
    2. Sócrates quer saber qual é a arte exercida por Górgias e qual a designação que se deve atribuir a Górgias em função da arte que exerce.
    3. Concepção de Górgias acerca da retórica:
      • é a arte dos discursos;
      • faculta a quem a possui liberdade para si próprio e domínio sobre os outros na cidade;
      • tem por objectivo e essência produzir a persuasão nos tribunais e em outras assembleias;
      • tem por objecto o justo e o injusto.
      Concepção platónica da retórica:
      • não é uma arte;
      • é uma forma de actividade empírica e de rotina, que visa produzir agrado e prazer;
      • com a cozinha, a toilette e a sofística é uma parte da adulação;
      • é um simulacro de uma parte da política, a justiça.
      Dialéctica:
      • método filosófico que Sócrates considera correcto e que busca a descoberta da verdade.

      Oposição radical entre os processos e as finalidades dos oradores (retórica e persuasão) e os dos filósofos (dialéctica e verdade).


FÉDON, Platão

    1. As propriedades da harmonia, semelhantes às da alma, são diferentes das propriedades dos elementos harmonizados. Mas essa diferença depende da relação (harmonização) dos elementos, não assinala uma natureza independente. Assim, se a alma for uma harmonia de elementos corpóreos, dependerá da relação entre estes e não subsistirá sem ela.
    2. Se a alma é apenas a harmonia constituída por elementos corpóreos e a virtude é harmonia, e o vício é desarmonia, não é possível atribuir vícios à alma - dizer que uma alma é viciosa seria dizer que uma harmonia não é harmoniosa.
    3. Provar a imortalidade da alma implica provar a natureza distinta e incorpórea da alma e desenvolver um dualismo que acolha tal realidade.
      Importância da teoria das formas na construção da ideia da realidade apenas inteligível.
      A objecção de Símias como ameaça ao dualismo. A refutação de Sócrates assegura o progresso
      já realizado com os argumentos anteriores.

CATEGORIAS, Aristóteles

    1. O primeiro período do texto proporciona uma caracterização negativa das substâncias primeiras. As substâncias primeiras não são ditas de algum sujeito: não são universais, sendo universal tudo aquilo que se predica de uma multiplicidade de coisas. As substâncias primeiras não existem em algum sujeito: não são acidentes, sendo um acidente aquilo que existe em alguma coisa, mas não como parte sua, e que não pode existir separadamente daquilo em que existe.
    2. Só as substâncias primeiras são seres individuais e auto-subsistentes: tudo o que existe está nas substâncias primeiras ou predica-se destas. Na ausência de substâncias primeiras, não existiriam substâncias segundas nem qualidades acidentais.
    3. A obra proporciona uma classificação das categorias ou tipos principais de entidade envolvidos na estrutura da realidade. O extracto introduz a categoria de substância, categoria ontolo-gicamente fundamental, e elucida em parte a natureza das substâncias primeiras: estas, apesar de permanecerem em si mesmas unas e idênticas, admitem qualificações contrárias.

O MESTRE, Santo Agostinho

    1. A objecção consiste em dizer que se falar é apenas proferir palavras, então, como quando cantamos também falamos e cantamos frequentemente sozinhos (sem que alguém nos oiça e aprenda), há pelo menos um caso em que não temos por objectivo ensinar. Isto leva Adeodato a pensar que a tese de Agostinho, segundo a qual sempre que falamos pretendemos ensinar, está errada.
    2. S. Agostinho justifica a ideia de que «uma coisa é falar, outra cantar» com dois argumentos:
      • O que deleita no canto é uma determinada modulação do som. Esta modulação pode-se unir ou separar das palavras. Logo, uma coisa é falar, outra cantar.
      • É possível entoar cantos, usando flautas e cítaras. As aves também cantam. Nós, às vezes, sem palavras, também entoamos trechos musicais. Em todos estes casos há canto, mas não há locução. Logo, falar e cantar são coisas diferentes.
    3. Pela locução os homens pretendem ensinar ou rememorar os outros ou a si mesmos. Mas ensinar é diferente de falar: é possível ensinar sem usar palavras.
      Ensinar é também diferente de significar: significamos para ensinar e não ensinamos para significar.
      Com as palavras, aprendemos apenas o som e o ruído das palavras. Depois de termos conhecimento das coisas, também temos conhecimento das palavras; mas, pelas palavras, nem as palavras aprendemos.
      Se sabemos o significado das palavras, rememoramos mais do que aprendemos. Se não sabemos, nem sequer rememoramos. O homem, pelas palavras, é apenas incitado a aprender.

PROSLOGION, Santo Anselmo

    1. Dois modos de pensar uma realidade: pensar numa palavra que tem um certo significado é diferente de pensar numa palavra compreendendo efectivamente o seu significado, inteleccionando a realidade que esta refere. A distinção mostra como o ateísmo é possível: quando pensa em Deus, o ateu fica-se pelo primeiro modo de pensar.
    2. Quem pensa em Deus compreendendo efectivamente a realidade significada pelo termo «Deus», não pode pensar que Deus não existe: como Deus é o ser maior do que o qual nada se pode pensar, nem em pensamento pode não existir.
    3. Procura de um único argumento que estabeleça racionalmente a existência de Deus. O argumento, partindo da ideia de Deus como o ser maior do que o qual nada se pode pensar, estabelece a sua existência necessária e proporciona a chave para a compreensão da natureza divina.

O SER E A ESSÊNCIA, São Tomás de Aquino

    1. A hipótese de haver mais de uma existência subsistente contradiz a noção de existência subsistente. Se recebesse discrime, pelo qual pertencesse a uma espécie de entes, subsistiria pela dínase; se recebesse matéria, que o distinguisse de outro ser da mesma espécie, subsistiria por um outro.
    2. Tem de haver uma primeira causa de todos os seres para evitar regressão infinita. A realidade da causa primeira não pode ser dada por um princípio extrínseco, porque, neste caso, não seria causa primeira. Mas também não pode ser dada por uma essência distinta da existência, porque isso seria admitir que um ser pode criar-se a si mesmo. Portanto, a causa primeira é unicamente existência.
    3. Objectivos da obra: expor e relacionar sem contradição os princípios pelos quais compreendemos toda a realidade; mostrar de que modo a essência existe nos diferentes tipos de entes.
      A primeira tarefa, subordinada à segunda, resolve as dificuldades relativas à conexão de noções como existência, essência, género, espécie e discrime. O segundo objectivo leva à exposição de um quadro hierarquizado dos seres, do mais ínfimo a Deus.

REDUÇÃO DAS CIÊNCIAS À TEOLOGIA, São Boaventura

    1. A luz da arte mecânica ilumina em relação às figuras artificiais, inventadas para satisfazer as necessidades do corpo. Como é servil e degenera do conhecimento filosófico, pode chamar-se--Ihe luz exterior. Esta luz distribui-se pelas sete artes mecânicas: lanifício, armadura, agricultura, caça, navegação, medicina e teatro.
    2. A arte mecânica desempenha a função de comodidade, aplicando-se ou ao vestuário, ou à alimentação, ou a ambos em simultâneo. Se se aplica ao vestuário, assume a forma de lanifício ou de armadura; se se aplica à alimentação, assume a forma de agricultura ou de caça; se se aplica a ambos em simultâneo, tem a forma de navegação ou de medicina.
    3. Toda a iluminação tem origem no Pai das Luzes. Há uma luz exterior, a luz da arte mecânica; uma luz inferior, a luz do conhecimento sensitivo; uma luz interior, a luz do conhecimento filosófico; e uma luz superior, a luz da graça e da Sagrada Escritura.
      A luz da arte mecânica ilumina em ordem às figuras e aos objectos artificiais.
    Na iluminação da arte mecânica podem-se intuir três coisas:
    • na produção, a geração e a encarnação do Verbo, isto é, a divindade e a humanidade;
    • no efeito, a norma de viver;
    • no fruto, a união de Deus e da alma.

    A iluminação da arte mecânica conduz à iluminação da Sagrada Escritura.


         

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Viseu, Jun/2003
Arranjo gráfico de A.R.Gomes

O mocho, símbolo da filosofia
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O Canto
da Filosofia