Almeida Garrett





  • Os espaços organizadores do poema: oposição Terra/Céu.
  • A ascensão e a queda do eu.
  • O drama do amor terreno: perder as asas = perder a inocência.
  • O doce/amargo do amor.
  •  
    AS MINHAS ASAS

    Eu tinha umas asas brancas,
    Asas que um anjo me deu,
    Que, em me eu cansando da terra,
    Batia-as, voava ao céu.
    – Eram brancas, brancas, brancas,
    Como as do anjo que mas deu:
    Eu inocente como elas,
    Por isso voava ao céu.

    Veio a cobiça da terra.
    Vinha para me tentar;
    Por seus montes de tesouros
    Minhas asas não quis dar.
    – Veio a ambição, co'as grandezas,
    Vinham para mas cortar
    Davam-me poder e glória
    Por nenhum preço as quis dar.

    Porque as minhas asas brancas,
    Asas que um anjo me deu,
    Em me eu cansando da terra
    Batia-as, voava ao céu.

    Mas uma noite sem lua
    Que eu contemplava as estrelas,
    E já suspenso da terra,
    Ia voar para elas,
    – Deixei descair os olhos
    Do céu alto e das estrelas...
    Vi entre a névoa da terra,
    Outra luz mais bela que elas.

    E as minhas asas brancas,
    Asas que um anjo me deu,
    Para a terra me pesavam,
    Já não se erguiam ao céu.
    Cegou-me essa luz funesta
    De enfeitiçados amores...
    Fatal amor, negra hora
    Foi aquela hora de dores!
    – Tudo perdi nessa hora
    Que provei nos seus amores
    O doce fel do deleite,
    O acre prazer das dores.

    E as minhas asas brancas,
    Asas que um anjo me deu
    Pena a pena me caíram...
    Nunca mais voei ao céu.

    (Almeida Garrett - Flores sem Fruto)


    mocho, símbolo da Filosofia

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