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Com o presente texto destacamos o 1º Dia Mundial da Voz, a 16/Abr/2003. É extraído de Voz e relação educativa, p. 113-120 (ver dados bibliográficos aqui).


 
 

 

Desenvolvimento de
qualidades vocais
— exercícios e seus objectivos



O simples facto da nossa presença ser mais ou menos próxima de outros indivíduos vai causar-lhes uma determinada impressão; não fazemos nada para nos exprimirmos mas o corpo por si é expressivo.

Se, para além da nossa presença, tentamos expressar alguma coisa, sabemos que estamos a querer exprimir-nos, mas podemos apesar disso, não ter consciência do nosso modo pessoal de expressão.

A (auto) observação sistemática da execução de exercícios corporais ajuda-nos a tomar melhor consciência do nosso próprio corpo e do nosso modo de expressão pessoal.

Como já afirmámos, o que de mal se passa na voz está associado a um mau uso do corpo na sua globalidade ou em certas áreas.

Num trabalho sobre a voz, a primeira atenção deverá ser dirigida para o «Corpo e sua Verticalidade».

12.1. A VERTICALIDADE DO CORPO

Propomos para iniciar qualquer conjunto de sessões sobre dinâmica corporal e vocal a execução de um exercício simples, a seguir descrito:

Exercício l — Actividades a realizar:
— Cam
inhar;
— Parar (procurando sentir-se equilibrado);
— Caminhar;
— Emitir (enquanto caminha ou quando está parado) palavras soltas/fonemas...;
— Projectar
a voz (chamar ao longe alguém — nome rico em vogais abertas, de preferência: (EX: Tó, Ana, Victor, Marta, ...).

Observações:

1 - Posição global do corpo em movimento e quando está parado, vista de perfil, frente e costas.
2 - Posição e relação estabelecida entre a cabeça, o pescoço e a zona superior das costas.
3 - Equilíbrio (ou não) do peso do corpo ao andar e quando está parado.
4 - Unidade (ou não) das diferentes zonas do corpo.
5 - Direcção do olhar.
6 - Zonas de tensão/bloqueios (se os houver).
7 - Posição do maxilar inferior quando fala ou está calado.
8 - Esforço vocal (existe ou não).

Estas observações serão feitas por outros indivíduos. É interessante realizar o exercício num grupo relativamente numeroso (cerca de 20 pessoas), dividido a meio, tendo cada executante um observador. O observador sabe o que vai observar, o executante não sabe a que níveis vai ser observado.

Se todos quiserem participar, o l.° grupo poderá ser alvo das observações indicadas de 1 a 5 e o 2.° das mesmas acrescidas das observações 6, 7 e 8.

Seguir-se-á uma troca de opiniões sobre as observações registadas e serão dadas informações sobre o que seria mais correcto realizar.

Informações:

É importante que caminhe, fale, projecte a voz, numa posição vertical, sem rigidez — a cabeça não se inclina, o pescoço não está atirado para a frente, os ombros não descaem nem levantam, não há curvaturas nas costas (regiões dorsal ou lombar), o abdómen não se salienta. É necessário que os membros, o pescoço e a cabeça se possam movimentar livremente, sem bloqueios, e que em todos os momentos do exercício se sintam prontos a «agir». Os observadores não devem visualizar (pressentir) bloqueios nas junções cabeça/pescoço, pescoço/ombros; os ombros não se devem levantar nunca.

Ao parar deve ficar apoiado nas duas pernas, que estarão ligeiramente afastadas (os pés não devem estar metidos para dentro), e com uma igual distribuição do peso do corpo; os braços estarão descaídos ou com as mãos na cintura. Uma outra posição possível, também de equilíbrio, consiste em flectir um pouco pelo joelho uma das pernas, que se situará à frente da outra. O peso do corpo vai ser exercido essencialmente sobre a perna flectida.

Importa verificar se parece haver uma relação equilibrada entre as diferentes partes do corpo. As perturbações mais comuns denotam uma dissociação entre o que se passa acima e abaixo da cintura. Na zona superior do corpo o indivíduo apresenta-se rígido, contraído, agressivo e na zona inferior é mole e passivo, ou pode apresentar as pernas, nádegas e abdómen muito contraídos e o tronco e cabeça descaídos.

Quando há esta discrepância entre duas regiões do corpo (o que não é tão raro acontecer) parece estarmos na presença de dois indivíduos diferentes no mesmo corpo. Nesta situação é impedida a circulação livre de energia ao nível de zonas musculares demasiado contraídas. Esta divisão do corpo associar-se-á provavelmente a factores de história pessoal (vivência de uma relação demasiado autoritária, rejeição, ...) e a uma personalidade perturbada.

A prática de exercícios de relaxamento será importante para o (re)ligar das diferentes zonas corporais.

A atitude de olhar em frente é a conveniente quando o indivíduo caminha, conversa ou pretende projectar a voz. Se olha para baixo significa que, por timidez e/ou sentimentos de insegurança emocional, não quer (não pode) enfrentar a situação humilhando-se perante ela. Se olha para cima, as razões poderão ser idênticas, embora pareça assumir uma atitude de superioridade e desprezo perante a situação (ou os interlocutores).

Parece-nos oportuno citar a propósito Emanuel Mounier quando afirma: «A pessoa expõe-se, exprime-se: faz face, é rosto. A palavra grega mais próxima da noção de pessoa é prosopon: aquele que olha de frente, que afronta» (MOUNIER, Emanuel - Ao encontro da pessoa. Colecção de Antologias "Afrontamento", nº 1, pág. 5).

A atitude de verticalidade (e o olhar de frente) será oposta à atitude de abatimento, de insegurança e dependência dos outros. O indivíduo que age intencionalmente, no contacto com os outros, numa atitude mental de liberdade, de convicção e de igualdade, fisicamente causará uma impressão de estabilidade e verticalidade; esta verticalidade terá um carácter mais subjectivo do que real (não é aconselhável nem possível a verticalidade do fio de prumo).

Se existem zonas de tensão, principalmente ao nível do pescoço, cabeça e costas, a voz produzir-se-á com esforço.

Referiremos algumas posturas móis comuns que são prejudiciais ò produção vocal.

— Cabeça inclinada para trás

Esta posição vai-se reflectir num aperto da laringe, numa má relação entre este órgão e o ar inspirado e expirado, numa falta de controlo sobre o palato mole. A voz emitida nestas condições terá uma ressonância mais fraca e mais nasal, havendo tendência para se produzir uma maior rigidez da língua o que arrastará dificuldades articulatórias.

— Cabeça caída para baixo e tórax descaído

Esta postura condiciona movimentos pequenos da caixa torácica, os músculos do tórax estão pouco activos, a respiração é reduzida e há uma falta de suporte da voz que se torna monótona e fraca (como fracos ou deprimidos estão os indivíduos que a produzem).

— Levantar os ombros, forçando a inspiração na zona superior do peito

Neste caso, a má relação que se estabelece entre as vértebras, geralmente associada a uma certa tensão na junção do pescoço com os ombros e com a cabeça, vai provocar um desperdício de ar na zona onde os pulmões estão mais largos e um descontrolo do sopro; este gasta-se rapidamente não permitindo uma duração razoável da emissão.

A voz é geralmente pobre em ressonâncias, produzindo-se facilmente o seu desgaste.

— Juntar (apertando) os joelhos

Esta posição condiciona uma má distribuição do peso do corpo, um certo desequilíbrio, associando-se a grandes tensões abdominais e geralmente a uma rigidez de todo o tronco. Os músculos da laringe estão também sob tensão e a voz é gutural e forçada.

— Cabeça puxada para a frente da coluna vertebral e as costas, compensatoriomente, para trás

Esta posição arrastará necessariamente uma rigidez das costas, pescoço e cabeça que se reflectirá numa voz forçada e sem flexibilidade.

O maxilar inferior não deve estar puxado para a frente nem para trás devendo mover-se com flexibilidade (ao descair ou levantar na vertical) quando o indivíduo fala ou projecta a voz. Algumas das posições incorrectas que referimos vão ser responsáveis por um mau posicionamento do maxilar.

Um observador pode sentir (escutando) que a voz é produzida com esforço; neste caso um descontrolo do sopro fonatório associar-se-á a posturas incorrectas.

O exercício (l) que propusemos deve ser realizado com observadores. Exercícios semelhantes poderão ser executados por um indivíduo que esteja sozinho, observando-se a um espelho.

As indicações que foram dadas a propósito do exercício l serão úteis em muitos outros. A posição vertical vai facilitar a execução de exercícios respiratórios e vocais. Do mesmo modo há exercícios respiratórios e vocais que propiciam a prática da verticalidade.

Exercício 2 — Levantar a caixa torácica em bloco ao mesmo tempo que realiza um movimento inspiratório. A bacia e as pernas constituem uma estrutura sólida que sustenta o resto do corpo; os ombros não se elevam separados do tórax, a face e o tronco mantêm-se verticais, as costelas não devem alargar.

A caixa torácica baixará até ao ponto inicial, quando se realiza a expiração.

(Ex. o «suspiro do Samourai» - Le Huche).

Exercício 3 — Olhar(-se) em frente de um espelho, mantendo a posição vertical. O pescoço e a face rolam ora para a direita ora para a esquerda lentamente, mas a direcção do olhar mantém-se constante (para a frente); o resto do corpo não mexe.

(Ex. «Esfinge» - Le Huche).

Exercício 4 — Olhar(-se) em frente de um espelho, mantendo a posição vertical. O pescoço e a face mantêm-se parados e todo o resto do corpo, como um bloco, roda ora para a esquerda ora para a direita.

(Ex. «A Ânfora» - Le Huche).

Nestes exercícios (2, 3, 4) nenhuma parte do corpo se deve inclinar. A verticalidade é mantida qualquer que seja a zona que executa a rotação.

Exercício 5 — Em posição vertical, pés ligeiramente afastados, sem perder o equilíbrio, passar a exercer o peso do corpo só sobre uma das pernas, estirando o lado livre do corpo desde a ponta do pé até ao braço que se eleva na vertical, e aos dedos da mão. Este movimento de estiramento (e contracção muscular) será acompanhado de uma inspiração costal e ao vortar (relaxando) à posição inicial por uma expiração. Neste exercício o eixo do corpo inclina ligeiramente.

Exercício 6 — Em posição vertical, pés juntos e braços ao longo do corpo, sem perder o equilíbrio, o indivíduo ora se apoia nas pontas dos pés ora nos calcanhares.

(Ex. «O soldado de madeira» - Le Huche).

Exercício 7 — O indivíduo começa por estar bem vertical e a olhar em frente, depois flectirá, sucessivamente: a cabeça (e só a cabeça) — «atitude de reflexão»; o pescoço — «atitude de reflexão profunda»; as costas — «atitude de abatimento»; a cintura — «atitude de esgotamento»; finalmente flectirá a zona da bacia deixando cair todo o corpo, aproximando as mãos dos pés (os joelhos não dobrarão). Seguidamente realizar-se-á o retorno à posição inicial (nos mesmos 5 tempos).

Conseguir estar cerca de 1 minuto em cada uma das posições sem se sentir cansado nem contraído será a situação ideal.

A verticalidade do corpo

Objectivos deste conjunto de exercícios:

  • Ficar «sensível» à sua própria expressão corporal.
  • Adquirir hábitos de posições corporais favoráveis a uma boa produção vocal.
  • Conhecer limitações provocadas por tensões musculares prejudiciais.
  • «Sentir-se bem» na posição vertical.
  • Adquirir hábitos de auto-observação.
  • Tomar consciência de diferentes modos de inspiração e expiração.

 

Leia ainda:

[Abr/2003]

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