Escola Secundária de Emídio Navarro - Viseu

Filosofia - 12º ano

Princípios programáticos


 

Planificação
geral
2003/04

 


 

 

 



1. PRINCÍPIOS PROGRAMÁTICOS E MÉTODO
 

 
  • O Programa consta da leitura integral de três obras filosóficas, de um elenco de 22, cobrindo obrigatoriamente três das quatro épocas: Antiga, Medieval, Moderna e contemporânea.
  • A orientação metodológica não parte da formulação de temas, problemas, ou dos autores para as obras, mas toma a “obra como ponto de partida e o seu entendimento como ponto de chegada”. Pela interpretação e comentário o aluno aperceber-se-á da experiência discursiva que elaborou a obra, ou seja, “processos, problemas e doutrinas que alimentam o seu discurso”. O aluno despertará, portanto, para elementos que compõem o discurso: contexto sócio-cultural, tipo de linguagem usada, modo particular de encarar o tema (epistemológico, ontológico, ético, social, político), método utilizado, argumentação, interlocutor, como serviu de despertador à humanidade do seu tempo, possíveis aportações ao tempo que é o nosso, em resumo, desmontar a génese da obra, projectar a obra para o antes e o depois: repensar por nós o que já foi pensado, utilizando toda a nossa experiência acumulada. A obra é assim um modelo vivo, concretização de capacidades e competências, que motivarão o aluno ao ensaio por escrito, atravessando toda a obra ou uma pequena parte, como, tese de autor, tipo de argumentação, contexto, influência particular noutro(s) autor(es), o que nos trouxe de novo, tensão com os próprios preconceitos.
 



   2. DUPLA FUNÇÃO DA OBRA FILOSÓFICA
 

 
  • Nesta opção programática, a utilização didáctica da obra filosófica ordena-se para uma dupla finalidade.

    Em primeiro lugar, o processo interpretativo atenderá ao dinamismo dialéctico e à formulação linguística do discurso, com a finalidade de levar o aluno à compreensão da obra como modelo discursivo. Todas as actuações didácticas, que preenchem este processo analítico, hão-de ir encaminhadas para a aquisição, por parte do aluno, da competência de elaborar o discurso filosófico mediante a escrita.

    Em segundo lugar, o primeiro objectivo não se alcançará nunca se o aluno não for simultaneamente instruído nos processos, problemas e doutrinas filosóficas que alimentem o seu discurso e lhe dêem a capacidade de situá-lo nos domínios da filosofia, onde a obra em análise aparece inserida.

 [...]



  3. LEITURA INTEGRAL DE TRÊS OBRAS DE ÉPOCAS DIFERENTES
3.1. A ESSÊNCIA DO MÉTODO PROPOSTO
  • Ler a obra  não significa apenas ler a obra inteira, mas “ler tudo quanto há para ser lido”, “ler por dentro até ao mais íntimo do texto”. Significa, portanto, estar atento ao tema fundamental e secundária, às partes em que se divide a obra, à argumentação, a reacções à obra, à conclusão, ao significado que os termos têm no autor. “O emprego de neologismos tem como finalidade expandir as potencialidades expressivas da linguagem a fim de revelar e dar o nome a faces e recessos da experiência humana, ainda não explorados”. Descobrir o acontecer do texto. O movimento do texto é inseparável do encontro e reestruturação da consciência do leitor. COMUNICAÇÃO.
 
3.2. RECIPROCIDADE DO LER E ESCREVER  
  • “Ler é a única via de acesso ao escrever”. Lendo, detectamos as categorias da linguagem, o tecido que estrutura o discurso, a configuração de hipóteses, argumentos a que o autor recorre, o impacto na existência e na história. Esta reflexão do aluno sobre o texto escrito desencadeará um movimento no sentido de que o aluno escreva o seu próprio texto e o problematize numa perspectiva de aperfeiçoamento.
 
3.3. O COMENTÁRIO
  • Através de pequenos ensaios,  o aluno fará comentários sobre temas tratados na obra em estudo. Esses ensaios poderão revestir várias formas: exposição de uma passagem da obra; crítica a uma posição doutrinária; a uma argumentação; problematização dos pressupostos ou consequências de uma teoria; análise da linguagem ou da argumentação ; resumo da obra ou parte dela; desenvolvimento de partes doutrinárias; estudo comparativo com outras obras; juízos valorativos das posições fundamentais e inovadoras. Mediante o comentário, o aluno aprofundará e ultrapassará o nível de reflexão e cientificidade, em relação aos conhecimentos, capacidades e competências adquiridas no 10º e 11º anos.
 
3.4. - JUÍZO CRÍTICO SOBRE CADA UMA DAS OBRAS-TEXTO
  • O aluno ao ter alcançado a competência própria de uma leitura rigorosa, encontrar-se-á “apto a elaborar um juízo, apreciação ou saber sobre a obra, a sua linguagem e argumentação, o seu pensamento, o seu valor filosófico, o seu significado no conjunto das obras do autor e na história da filosofia” O juízo elaborado não versará meramente a estrutura da obra, completa e fechada sobre si mesma, mas também como último horizonte a “valência da verdade que a obra projecta sobre regiões da experiência por ela pensadas”. De facto uma obra não é meramente um esqueleto de conceitos, sem vida, mas é uma voz, que tem significado histórico e interpela o nosso tempo, tem um significado a partir das vivências actuais e é sempre a expressão do leitor-escritor
 
3.5. - PARTICIPAÇÃO ACTIVA DO ALUNO
  • Atendendo ao curto espaço do ano lectivo, às exigências da leitura integral, somente pela participação pessoal será possível alcançar o mínimo de maturidade discursiva. 
 
3.6. - AVALIAÇÃO
  • O Programa de Filosofia é um exercício filosófico a partir do próprio texto filosófico.  Esse exercício tem quatro momentos: 
  • LEITURA - que é recolha, inteligência e expressão oral e escrita do que é colhido e inteligido na obra. 
  • REFLEXÃO ANALÍTICA E CRÍTICA - que é esforço de interpretação, identificação do tema central, percepção da expressão própria, apropriação da argumentação da obra. 
  • COMENTÁRIO - segundo as diferentes formas explicitadas neste ponto do programa [4.5.3.] 
  • JUÍZO CRÍTICO - Com todas as implicações expressas neste ponto do Programa [4.5.4.], o que permitirá ao aluno não só aprender a exercitar a capacidade científica da valoração da obra filosófica, mas também transpor essa capacidade para outros domínios da sua actividade, nomeadamente para a atitude humana e cívica de julgar e de optar perante os acontecimentos da vida e do mundo.

    Estes quatro momentos do trabalho filosófico é que são a verdadeira matéria do Programa, que pode e deve ser exercitada a propósito de qualquer texto. É por isso que uma avaliação nacional não está dependente do conteúdo concreto desta ou daquela obra, podendo ser feita a partir de quaisquer textos de uma obra filosófica.

  • É por isso que o Programa afirma que “aprender a filosofia é aprender não só a dialogar e a expressar-se oralmente, mas principalmente a elaborar com cientificidade o discurso filosófico escrito.” Com base neste pressuposto, será sobretudo através dos múltiplos trabalhos escritos que se torna possível uma avaliação objectiva dos níveis de competência alcançados pelo aluno na elaboração do discurso filosófico e do âmbito de conhecimentos respeitantes às Obras-Texto e em geral aos temas que a história da filosofia contém
    Como suporte documental para tal avaliação deve ser organizado o arquivo do aluno, no qual se guardem os seus trabalhos escritos e registem os pareceres e orientações, bem como menção sobre as participações activas em geral. 
    [Do Programa de 12º Ano, Ministério da Educação, Departamento do Ensino Secundário, Lisboa Abril de 1995]

 

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Arranjo gráfico de A.R.Gomes