A avaliação constitui para qualquer didáctica
disciplinar um dos mais complexos problemas. Antes mesmo de se constituir
como um problema estritamente pedagógico ou técnico,
ela é um problema ideológico e político, ético
e deontológico, de justiça e equidade, sobretudo.
Perspectivada por muitos como peça-chave
dos sistemas educativos para o exercício sempre controverso
do controlo e da selecção sociais, a avaliação
transforma-se num campo de confrontação ideológica,
a exigir dos professores e das professoras uma atitude institucional
crítica.
Porque o processo da avaliação
vai ter repercussões sobre seres humanos únicos e
concretos, ainda por cima muito diferentes uns dos outros, com origens
sociais e culturais muito díspares, a avaliação
exige sensibilidade e, sobretudo, justiça e equidade.
Em Filosofia, por via da especificidade
e complexidade dos processos cognitivos que estão em apreço
no ensino e na aprendizagem do filosofar, a avaliação
reveste-se de dificuldades pedagógicas particulares, a exigir
não apenas intervenção sensata, cuidado responsável
e justiça equitativa, mas também critérios
explícitos e transparentes de consecução bem
sucedida das tarefas, diversidade e adequação de instrumentos,
pluralidade e riqueza das fontes, oportunidade e sensibilidade na
comunicação das observações e dos resultados.
O problema maior reside seguramente na
dificuldade em proceder a uma avaliação justa e equitativa.
Segundo que máximas de justiça se deve avaliar: 1)
a cada um a mesma coisa?; 2) a cada um segundo os seus méritos?;
3) a cada um segundo as suas obras?; 4) a cada um segundo o seu
trabalho?; 5) a cada um segundo o seu esforço?; 6) a cada
um segundo os resultados alcançados?; 7) de cada um segundo
as suas possibilidades?; 8) de cada um segundo as suas condições?
Reconhecidos os desafios e as dificuldades
apontadas, não pode o Programa, ainda por cima ignorando
as situações e as circunstâncias concretas,
propor orientações normativas rígidas. O que
se propõe é apenas um conjunto de Princípios
gerais, com indicação de uma pluralidade de Fontes
a utilizar, a que se juntam alguns Critérios de
avaliação sumativa. Esclarece-se que os critérios
de avaliação sumativa adiante explicitados são
propostos antes de mais como referenciais para guiar o processo
de ensino e sobretudo de aprendizagem, uma vez que uma avaliação
sumativa não pode exceder o que foi efectivamente objecto
de actividades de ensino e de aprendizagem.
Princípios
reguladores da Avaliação
- Considerando que entre os diversos
elementos que integram o processo de ensino e de aprendizagem
(objectivos, conteúdos, competências, actividades,
recursos e avaliação) deve existir correspondência
e articulação;
- considerando que a avaliação
tem por função prioritária regular e optimizar
o processo de ensino e de aprendizagem, ajudando o aluno a aprender
e o professor a ensinar (vide Doc. Revisão Curricular);
- considerando que as tarefas e as actividades
de avaliação devem, sempre que possível,
coincidir com as tarefas e actividades de ensino e aprendizagem
(vide Doc. Revisão Curricular);
- considerando também a especificidade
e complexidade dos processos cognitivos intrínsecos à
aprendizagem do filosofar, assim como as características
próprias do trabalho filosófico;
a avaliação em Filosofia
deverá corresponder às exigências que a seguir
se enunciam:
a) Predominantemente formativa
e qualitativa
Deverá, ao longo do processo de ensino e de aprendizagem,
informar e regular o curso das aquisições
cognitivas e a realização bem sucedida das actividades
e das produções (discursivas, sobretudo) em que se
concretizam as competências a adquirir, tendo por referência
instruções claras para a realização
das tarefas e critérios precisos para apreciação
dos resultados.
b) Tendencialmente contínua
Deverá acompanhar e articular-se
com todos os momentos e actividades em que se concretiza o processo
de ensino e de aprendizagem, evitando aquisições
cognitivas erróneas ou realizações equivocadas
que venham a prejudicar aquisições e realizações
futuras.
c) Atenta às competências
e às actividades
Deverá prestar atenção
particular às competências e às actividades,
tendo em consideração que a Filosofia se define
de modo substantivo como exercício e actividade de pensamento
e juízo, como saber-fazer racional crítico.
d) Diagnóstica
e prognóstica
Deverá anteceder o próprio
processo de iniciação ao filosofar propriamente
dito, analisando as condições de possibilidade de
trabalho filosófico: limites e potencialidades linguísticas,
competências e deficiências discursivas, dificuldades
e facilidades de comunicação, hábitos e métodos
de estudo e trabalho intelectual.
e) Democrática
e participada
Deverá ser realizada com os
alunos e alunas, enquanto primeiros interessados em experiências
cognitivas bem sucedidas, enquanto intérpretes privilegiados
de reais dificuldades, enquanto únicos conhecedores de
algumas dúvidas ou hesitações, enquanto únicos
conhecedores de algumas potencialidades que passam despercebidas.
f) Sumativa
Em conformidade com o Documento da
Revisão Curricular, a avaliação sumativa
realizar-se-á em quatro momentos: dois de natureza qualitativa
(no Natal e na Páscoa) e dois de natureza quantitativa
(no fim do primeiro semestre e no final do ano lectivo). A estes
momentos acrescenta o Documento a realização de
Provas Globais, no final do 11º ano, elaboradas na escola
e segundo critérios aprovados pelo Conselho Pedagógico.
Fontes
privilegiadas da Avaliação
- Considerando a diversidade e
heterogeneidade sócio-cultural da população
escolar e os diferentes estilos individuais de aprendizagem (vide
Doc. Rev. Curricular);
- considerando que o recurso privilegiado
aos testes escritos não coincide com a natureza da maior
parte das actividades de ensino e de aprendizagem, predominantemente
orais, nem permite avaliar com autenticidade muitas das aquisições
e competências cognitivas (vide Doc. Rev. Curricular);
- considerando também a
especificidade e complexidade dos processos cognitivos, assim
como as exigências particulares do trabalho filosófico;
a avaliação em Filosofia
deverá diversificar as fontes e os instrumentos de avaliação,
nomeadamente:
a) |
A observação,
tão sistemática quanto possível, tendo
por finalidade recolher informações sobre hábitos
de trabalho, atitudes, grau de participação e
interesse e, em particular, sobre a evolução no
processo de aprendizagem. |
b) |
As
intervenções orais, em debates,
em resposta a solicitações da professora ou do
professor, possibilitarão apreciar a qualidade da precisão
conceptual e da clareza discursiva, a capacidade da comunicação
e o valor da argumentação. |
c) |
As
exposições orais, a partir de
leituras ou de pesquisas solicitadas, permitirão apreciar
a pertinência da interpretação, a capacidade
de trabalho autónomo, a aquisição de métodos
de pesquisa, o conhecimento e o domínio das fontes de
informação. |
d) |
As
produções escritas - actas e
relatórios, resumos e notas de leitura, apreciações
e reflexões pessoais - possibilitarão avaliar
a capacidade de escuta e compreensão oral, a qualidade
de leitura compreensiva e sua expressão escrita, a capacidade
de (se) questionar (sobre) matérias controversas. |
e) |
A
análise e interpretação de textos
argumentativos - análise metódica, com
ou sem guião, interpretação, discussão
- permitirá apreciar as capacidades de detectar elementos
essenciais tais como: tema/problema, tese/posição
do autor, argumentos/provas despendidos e também apreciar
as capacidades de contrapor posições alternativas
e explicitar argumentos/provas pertinentes. |
f) |
As
composições filosóficas
de desenvolvimento metódico (filosófico) de temas/problemas,
efectivamente tratados nas aulas, possibilitarão apreciar
as capacidades de interpretar, problematizar e argumentar um
tema filosoficamente relevante. |
g) |
Outras
fontes - cada docente, por sua iniciativa ou por acordo
com o grupo de Filosofia, poderá obviamente socorrer-se
de outras fontes: designadamente, algum pequeno trabalho monográfico,
planificado de antemão, fichas de trabalho, organização
de dossiers temáticos ou caderno de actividades. Os critérios
de apreciação deverão ser previamente definidos
e explicitados perante cada turma. |
Critérios
de referência para avaliação sumativa
A responsabilidade pela fixação
de objectivos, de conteúdos, de competências e de critérios
da avaliação sumativa interna cabe por inteiro à
Escola e em particular ao Conselho de Grupo.
Em conformidade com o documento
de Revisão Curricular, “entre os elementos da avaliação
sumativa interna a considerar para a classificação
de cada disciplina incluem-se as Provas Globais”.
Ainda segundo aquele documento,
os alunos realizarão Prova Global de Filosofia apenas no
final do 11º ano. As Provas Globais serão elaboradas
a nível de Escola pelo Conselho de Grupo, segundo critérios
aprovados pelo Conselho Pedagógico.
Considerando estas instruções,
não pode o Programa fixar critérios rígidos,
universais e obrigatórios de avaliação.
Entendeu-se, no entanto, que o
Programa não poderia silenciar a questão concreta
dos critérios de avaliação sumativa e final,
não propondo quaisquer indicadores da consecução
dos objectivos gerais fixados.
Partiu-se do princípio que
um dos factores mais decisivos para garantir justiça na avaliação
e evitar tacteios por parte dos alunos e das alunas e arbitrariedades
não desejadas pelos professores e pelas professoras é
seguramente a transparência e a clareza dos critérios
de avaliação.
Admitiu-se também, como
condição da legitimidade da avaliação,
a coerência e continuidade dos critérios de avaliação
com os critérios de realização bem sucedida
das actividades de aprendizagem: não é legítimo
avaliar o que não foi intencionalmente ensinado e/ou não
foi objecto de actividades de aprendizagem (de exercício)
ao longo do processo.
Considerou-se, ainda, que importava
clarificar que indicadores de sucesso deverão ser tomados
como indícios seguros para o reconhecimento das aprendizagens
previstas e das aquisições cognitivas desejadas. Por
esta razão, se indicam não os conteúdos sobre
que deve recair a avaliação de conhecimentos mas preferencialmente
o tipo de actividades ou tarefas em que se hão-de revelar
o nível e a qualidade das aquisições cognitivas
e das competências alcançadas.
Sem sobreposição
às orientações definidas pelo DES, no respeito
pelas circunstâncias, possibilidades e limites de cada escola
e sobretudo dos alunos e das alunas, os critérios que se
explicitam adiante, como se referiu já, deverão, pois,
ser tomados apenas como critérios de referência e como
metas a alcançar no final do 11º ano, cabendo a cada
escola a sua explicitação concreta, considerados os
objectivos, os conteúdos, as competências e as actividades
efectivamente planificados e trabalhados ao longo dos dois anos.
Sendo propostos tão-só
como critérios de referência deverão, no entanto,
ser tomados como marcos ou balizas para um acordo pedagógico-didáctico
desejável, entre docentes e entre docentes e discentes, admitindo
que as cláusulas específicas só podem ser estabelecidas
localmente e localmente “assinadas”.
Eis, assim, os critérios
que deverão mobilizar e direccionar as aprendizagens e que,
consequentemente, deverão balizar também as actividades
de avaliação sumativa.
No
final do 11º ano, os alunos e as alunas deverão ser
capazes de:
- Recolher informação
relevante sobre um tema concreto do programa e, utilizando fontes
diversas - obras de referência, suportes electrónicos
ou outros - compará-la e utilizá-la criticamente
na análise dos problemas em apreço.
- Clarificar o significado
e utilizar de forma adequada os conceitos fundamentais,
relativos aos temas/problemas desenvolvidos ao longo do programa
de Filosofia.
- Redigir textos
- sob a forma de acta, síntese de aula(s) ou relatório
- que expressem de forma clara, coerente e concisa o resultado
do trabalho de compreensão e reflexão sobre os problemas
filosóficos efectivamente tratados.
- Participar em debates
acerca de temas relacionados com os conteúdos programáticos,
confrontando e valorando posições filosóficas
pertinentes ainda que conflituantes e auscultando e dialogando
com os intervenientes que sustentam outras interpretações.
- Analisar textos de carácter
argumentativo - oralmente ou por escrito -, atendendo:
- à identificação
do seu tema/problema;
- à clarificação
dos termos específicos ou conceitos que aparecem;
- à explicitação
da resposta dada ou da tese defendida;
- à análise dos
argumentos, razões ou provas avançados;
- à relação
de conteúdo com os conhecimentos adquiridos.
- Compor textos de carácter
argumentativo sobre algum tema/problema do programa efectivamente
tratado e acerca do qual tenham sido discutidas distintas posições
ou teses e os correspondentes argumentos:
- formulando com precisão
o problema em apreço;
- expondo com imparcialidade
as teses concorrentes;
- confrontando as teses concorrentes
entre si;
- elaborando uma resposta
reflectida à questão ou problema.
- Realizar um pequeno trabalho
monográfico acerca de algum problema filosófico
de interesse para o estudante, relacionado com algum conteúdo
programático efectivamente abordado e metodologicamente
acompanhado pelo docente nas tarefas de planificação.
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