
Os
poemas de António Machado foram transcritos da 2ª ed.
(revista e aumentada) de uma Antologia Poética (com selecção,
tradução, prólogo e notas de José Bento),
da editorial Cotovia (1999).
|
|
ANTÓNIO MACHADO
poeta sevilhano
Um dos poemas mais
divulgados de António Machado
concentra interessante conteúdo filosófico. A lembrar,
por exemplo, a questão da prioridade
essência/existência.
|
|
Caminante,
son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar. |
Caminhante,
são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar.
|
O
poema transcrito faz parte de um conjunto de provérbios e cantares.
Uma selecção de mais alguns do mesmo conjunto:
|
|
XXI
Ayer soñé que veía
a Dios y que a Dios hablaba;
y soñé que Dios me oía...
Después soñé que soñaba.
XXXVII
¿ Dices que nada se crea?
No te importe, con el barro
de la tierra, haz una copa
para que beba tu hermano.
XXXVIII
¿ Dices que nada se crea?
Alfarero, a tus cacharros.
Haz tu copa y no te importe
si no puedes hacer barro.
XLII
¿ Dices que nada se pierde?
Si esta copa de cristal
se me rompe, nunca en ella
beberé, nunca jamás.
XLVI
Anoche soñé que oía
a Dios, gritándome: ¡ Alerta!
Luego era Dios quien dormía,
y yo gritaba: ¡ Despierta!
|
XXI
Ontem eu sonhei que via
Deus e que a Deus falava;
e sosnhei que Deus me ouvia...
Depois sonhei que sonhava...
XXXVII
Dizes que nada se cria?
Não te importes, e com o barro
da terra faz uma taça
para que beba teu irmão.
XXXVIII
Dizes que nada se cria?
Oleiro, mãos ao trabalho!
Faz teu copo e não te importe
se não podes fazer barro.
XLII
Dizes que nada se perde?
Se esta taça de cristal
se me partir, nunca nela
eu beberei, nunca mais.
XLVI
À noite sonhei que ouvia
Deus, que me gritava: Alerta!
Depois Deus adormecia
e eu gritava: Desperta!
|
O sonho.
O sonho é o "pano de fundo" de um dos poemas de António
Machado de que mais gosto. Com referências filosóficas
evidentes num invólucro poeticamente delicioso. Ou não
fosse uma parábola...
|
|
Era
un niño que soñaba
un caballo de cartón.
Abrió los ojos el niño
y el caballito no vio.
Con un caballito blanco
el niño volvió a soñar;
y por la crin lo cogía...
¡ Ahora no te escaparás!
Apenas lo hubo cogido,
el niño se despertó.
Tenia el puño cerrado.
¡ El caballito voló!
Quedóse el niño muy serio
pensando que no es verdad
un caballito soñado.
Y ya no volvió a soñar.
Pero el niño se hizo mozo
y el mozo tuvo un amor,
y a su amada le decía:
¿ Tú eres de verdad o no?
Cuando el mozo se hizo viejo
pensaba: todo es soñar,
el caballito soñado
y el caballo de verdad.
Y cuando vino la muerte,
el viejo a su corazón
preguntaba: ¿ Tú eres sueño?
¡ Quién sabe si despertó!
|
Era
um menino a sonhar
com um cavalo de cartão.
O menino abriu os olhos
e não vui o cavalinho.
Com um cavalinho branco
ele voltou a sonhar;
pelas crinas o prendia...
Assim não te escaparás!
Mal o conseguiu prender,
logo o menino acordou.
Tinha a sua mão fechada.
O cavalinho voou!
O menino ficou sério,
pensando não ser verdade
um cavalinho sonhado.
Já não voltou a sonhar.
E o menino fez-se moço
e o moço teve um amor,
e dizia à sua amada:
Tu és de verdade ou não?
Quando o moço se fez velho
pensava: Tudo é sonhar,
o cavalinho sonhado
e o cavalo de verdade.
E quando chegou a morte,
o velho ao seu coração
perguntava: Tu és sonho?
Quem saberá se acordou!
|
|