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textos/ideias, ao ritmo do programa de Introd. à Filosofia |
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Todas
(todas?) as verdades prescrevem.
Pelo que deveriam vir... com prazo de validade. |
A análise de Armando Brito de Sá, também ela (como uma outra de Henrique Jorge) despoletada por um texto de Octavio Paz.
Permitam-me que recorde algumas das mudanças culturais que têm vindo a ter lugar na sociedade ocidental. A cultura cada vez mais tecnológica em que vivemos está a mudar alguns dos nossos paradigmas mais básicos. A crença em Deus, por exemplo, tem vindo a ser substituída pela crença na ciência todo-poderosa. Não são, contudo, conceitos fáceis para o homem comum. Na verdade, e como afirma Hans Moravec, um teórico da inteligência artificial, “In the present condition we are uncomfortable half-breeds, part biology, part culture, with many of our biological traits out of step with the inventions of our minds” [no nosso estado actual somos desconfortáveis criaturas mistas, parte biologia, parte cultura, em que muitas das nossas características biológicas estão desfasadas das invenções da nossa mente] (1). Os conceitos de saúde, doença e morte têm igualmente vindo a mudar. Segundo Arthur Barsky, escrevendo em 1988, verifica-se uma insatisfação crescente com a saúde pessoal apesar de um aumento da saúde colectiva (2). Tony Smith, escrevendo no British Medical Journal há três anos, refere a mesma preocupação, quando escreve que “In reality our environment is safer than ever before, as measured by the fact that life expectancy is continuing to rise in most Western countries. But for the average citizen the world has become a threatening place, with health risks associated with such basics as sunlight, the air we breathe and the water we drink.” [Na verdade o nosso ambiente é mais seguro do que nunca, como se verifica pelo facto de a expectativa de vida continuar a subir na maior parte dos países ocidentais. Contudo, para o cidadão médio o mundo tornou-se um lugar ameaçador, com riscos para a saúde associados a coisas tão básicas como a luz do sol, o ar que respiramos e a água que bebemos.] (3). Barsky identificou quatro motivos principais para esta infelicidade com a saúde individual: (i) prevalência crescente de doenças crónicas e degenerativas; (ii) um aumento da consciência social da saúde, com amplificação dos sintomas corporais e da sensação de doença; (iii) a importância crescente do mercado da saúde, que faz o que pode para deixar a população catatónica com medo de tudo e oferecer uma solução em seguida; (iv) e a medicalização da vida diária com expectativas irrealistas de cura.(2) Como afirma Michael Fitzpatrick, um médico de família inglês, “In an age of diminishing expectations there is a widespread loss of faith in the future. As a result, the meaning of life for everybody shrinks to the number of years of its duration. … Staying alive becomes an end in itself. Hence [people] become preoccupied with clinging on to it, with holding off death, with playing safe, with avoiding risks”. [Numa era de baixas expectativas verifica-se uma perda generalizada de fé no futuro. Como resultado, o sentido da vida para todos reduz-se ao número de anos da sua duração… Continuar vivo torna-se um fim em si mesmo. Assim, as pessoas preocupam-se com agarrar-se à vida, em afastar a morte o mais possível, em jogar pelo seguro, em evitar riscos.] (4). A morte surge assim com algo percebido como anti-natural. Isto é um desastre para a condição humana. Subscrevo praticamente todo o texto de Octávio Paz: a perda da consciência da morte como algo indissociável da vida é provavelmente um dos maiores erros da sociedade contemporânea; a vida perde assim uma boa parte do seu sentido. Paradoxalmente, a vida eterna torna-se não num bem mas numa limitação à própria vida - vale tudo, inclusivamente o esvaziamento total do sentido da nossa existência, desde que permaneçamos vivos. Se tudo isto se passa no mundo dos factos ou das representações é talvez irrelevante: os factos da nossa vida não são afinal modulados por uma sucessão de máscaras? Referências
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nb (d'O Canto):
Armando B. de Sá tem aqui um outro texto -- no verbete MadreDeus,
do Lexicon.
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![]() O canto da Filosofia é um projecto de António R. Gomes, disponibilizado graças a Terràvista |
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