PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS
 

Os princípios subjacentes às sugestões metodológicas que irão ser propostas implicam um tipo de aula centrado não só no trabalho da turma, mas também um papel activo da parte dos docentes. O trabalho da turma assenta fundamentalmente na análise e interpretação de textos e outros documentos. O diálogo, aqui também suposto, é sobretudo pensado como um debate a partir de um elemento comum a docentes e alunos e alunas que servirá, simultaneamente, como o lugar da procura de informações, e o ponto de partida da análise crítica. Procura-se que, desde o início do trabalho, os jovens e as jovens possam tomar iniciativas de interpretação e compreensão dos temas e, assim, caminhar no sentido da configuração progressiva da sua autonomia, factor absolutamente imprescindível na aprendizagem da filosofia.

A relevância dada a um documento de referência no contexto do desenvolvimento das aulas, corresponde à convicção, já referida na introdução, que o exercício pessoal da razão implica a alteridade, ou seja, que pensar é pensar com ou pensar a partir de.

Dito por outras palavras, tem-se como ideia reguladora a aula como espaço de trabalho que permita a assimilação pessoal e a posição crítica, mas onde se assume também a Filosofia como produto cultural, com elementos teóricos estruturados que é necessário conhecer. Ou seja, supõe-se um trabalho de síntese pessoal da parte das alunas e alunos, mas também a aquisição de dados informativos sobretudo no sentido da clarificação conceptual e de rigor argumentativo.

Transportada para o plano das aprendizagens, esta ideia reguladora, obriga à configuração de um processo sustentado por três princípios:

  • princípio da progressividade das aprendizagens;
  • princípio da diferenciação das estratégias;
  • princípio da diversidade dos recursos.

Princípio da progressividade das aprendizagens

Com este princípio pretende-se assinalar que, embora a dinâmica da realidade seja complexa e nunca linear, deve haver o cuidado pedagógico de definir precedências nas aprendizagens, não só em termos dos núcleos temáticos a abordar como das actividades a desenvolver nessa abordagem e dos recursos documentais a serem utilizados.

As implicações metodológicas desta opção na condução do processo de ensino e de aprendizagem são múltiplas, sendo de salientar as seguintes:

a) na importância e no rigor da avaliação diagnóstica, sobretudo da inicial, especialmente, das competências discursivas e reflexivas;
b) no papel dos docentes e de alunos e alunas, privilegiando uma lógica da aprendizagem relativamente a uma lógica de ensino;
c) na planificação de actividades que tenham em conta a progressividade das competências a desenvolver;
d) na escolha de documentação de apoio adequada à consecução dessa progressividade.

Princípio da diferenciação de estratégias

Este princípio decorre de duas exigências específicas:

a)

por um lado, o privilegiar de uma lógica de aprendizagem, que tenha em conta os diferentes estilos de aprendizagem próprios de cada jovem, sendo imperioso que as professoras e os professores recorram a formas diversificadas de abordar e fundamentar as questões para que estudantes mais analíticos ou mais intuitivos, por exemplo, não sejam sempre beneficiados ou prejudicados;

b) por outro lado, a diferenciação de estratégias é uma consequência directa da diversidade dos objectivos que o programa propõe.

Princípio da diversidade dos recursos

Este princípio é, desde logo, um corolário dos anteriores. A sua suposição implica que as aulas devem assentar na variedade de recursos que cada situação possibilitar. Indicamos os que parecem ser mais relevantes:

1 - Em primeiro lugar os textos. A História da Filosofia tem figura nos textos que foram sendo escritos, e a sua interpretação, sempre renovada, permite que a Filosofia se vá constituindo na sua novidade. Contudo, propõe-se que se utilizem na sala de aula diferentes tipos de textos e não apenas os que o canon catalogou de filosóficos. Exemplificando:

a)

Os textos filosóficos devem constituir os mais importantes materiais para o ensino e a aprendizagem do filosofar.
A sua selecção adequada representa um dos maiores desafios para as professoras e os professores. Nem sempre é fácil encontrar os textos que têm incidência nos temas/problemas em estudo, nem sempre é fácil encontrar os textos apropriados ao nível em que se encontram os jovens e as jovens, nem sempre é fácil encontrar diferentes textos que reflictam distintas posições/teses/respostas sobre um mesmo problema. A adequação aos temas e a adequação ao nível dos alunos e alunas, assim como a expressão de distintas posições sobre um mesmo tema são três dos mais relevantes critérios da sua selecção.
Um segundo e decisivo desafio para a experiência bem sucedida do trabalho com os textos filosóficos diz respeito às orientações para a sua leitura, análise, interpretação e discussão. Sem instruções claras sobre o trabalho a empreender, sem guiões explícitos de actividades, corre-se sempre o risco de introduzir confusão nas tarefas, propiciadora de experiências mal sucedidas e consequente desmotivação.

b) Para além dos textos filosóficos, os dicionários especializados, as histórias da Filosofia e outras obras de referência, filosóficas ou não, deverão constituir também alguns dos recursos a mobilizar.
Sendo a actividade filosófica uma actividade por excelência de investigação, a prática de consulta de diversificadas fontes de informação deverá ser implementada assiduamente, residindo aqui uma das dimensões formativas da Filosofia, contribuindo deste modo para o desenvolvimento de competências fundamentais. Esta prática é mais vantajosamente estimulável se for desencadeada em função de projectos específicos de intervenção por parte dos alunos e alunas: necessidade de preparar uma exposição na aula, necessidade de apresentar um pequeno trabalho monográfico, necessidade de elaborar uma nota de leitura.
c) A utilização de textos literários deve assumir também um papel relevante, na medida em que eles podem constituir-se como matéria mesma sobre a qual a actividade filosófica, como actividade interpretativa, se pode exercer. A obra literária ao configurar um mundo, onde padecem e agem seres humanos num quadro de relações complexas, explicita modos possíveis de ser, de agir e de habitar a realidade, podendo funcionar como indutor de conteúdos, levando alunas e alunos a sair de si e confrontar-se com essa perspectiva de viver, pensar e ser que lhes é proposta. Este processo, simultâneo, de descentração e alargamento da experiência pessoal, cria condições favoráveis ao exercício filosófico da crítica e compreensão.

2 - Também os meios audiovisuais podem ser objecto de múltiplas utilizações na aula de Filosofia e contribuírem para o desenvolvimento de diversas competências.

O recurso a transparências, como apoio à apresentação de exposições, de esquemas integradores dos percursos conceptuais, ou para exibir a estrutura argumentativa de textos, reveste-se de importância indispensável.

O visionamento de documentos ou filmes pode tornar-se relevante, se não mesmo imprescindível, para motivar e operacionalizar a abordagem de desafios actuais. A exibição de spots publicitários, de excertos de intervenções políticas e de fragmentos fílmicos, poderá constituir oportunidade privilegiada para o exercício da crítica social e política.

Para que a exibição de documentos audiovisuais se torne mais formativa, parece necessário que seja acompanhada de critérios ou guiões de análise, evitando a recepção passiva, desenvolvendo hábitos de leitura activa, desencadeando atitudes de distanciamento e análise crítica.

3 - Por fim, mas não em último lugar, o computador. O computador adquiriu definitivamente um lugar privilegiado entre os recursos de aprendizagem. Para além de meio instrumental para o processamento de texto e de outras informações e também para a comunicação inter-individual e em rede, ele abre portas às mais diferentes fontes de informação, com destaque para os CD-ROMs e a Internet. A elaboração de trabalhos escolares e a necessária pesquisa de informações têm no computador um espaço e oportunidades cada vez mais potenciados, com possibilidades ilimitadas. Professores e professoras têm aqui um dos seus mais importantes desafios e alunos e alunas uma das mais profícuas possibilidades.

 

[Ver sugestões metodológicas]

©Jul/2003

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