[Este é
um tema da rubrica O estatuto do
conhecimento científico da 2ª
unidade temática do programa de Introdução
à Filosofia do 11º ano]
-
Os objectivos
principais da rubrica estão aqui.
- Com este tema pretende-se
- reconhecer a importância do método
na construção da ciência
- identificar os diferentes momentos do método
científico e a sua interdependência
- compreender o carácter problemático
do método hipotético-dedutivo
- avaliar a importância das posições
de Popper em relação aos problemas
suscitados pelo método hipotético-dedutivo
- Algumas ideias-síntese:
- a observação científica
não é simples observação
de factos: a ciência não parte da observação
dos fenómenos mas da formulação
de problemas sobre esses fenómenos (a descoberta
de "factos polémicos"). Como nota
François Jacob, pode examinar-se um objecto
durante anos sem daí tirar a menor observação
com interesse científico; nas palavras de Gérard
Fourez, observar é fornecer uma modelo teórico
daquilo que se vê;
- observado/analisado o fenómeno, o cientista
passa à formulação de uma hipótese
que o explique -- uma explicação provisória.
A hipótese, embora se relacione com os dados
da observação, não deriva directamente
deles, sendo antes uma criação do cientista.
No entanto, a indução
está na base de muitas hipóteses: a
partir dos casos observados pode formular-se uma hipótese
que explique não apenas esses casos,
mas todos os da mesma espécie; Hume
criticou esse salto no desconhecido (a passagem da
análise de casos particulares para o carácter
geral da hipótese) -- as teorias de Popper
podem constituir uma alternativa e de certo modo uma
"solução" para esse problema
(ver abaixo);
- formulada a hipótese, deduzem-se dela
as consequências -- sobretudo nos casos em que
a hipótese não pode ser directamente
verificada;
- faz-se depois a contrastação experimental
das consequências da hipótese. Se estas
forem confirmadas, a hipótese está verificada;
caso contrário, será rejeitada (e, eventualmente,
formulada uma outra);
- portanto, o método científico não
é exclusivamente indutivo; o indutivismo
experimental (e uma visão inteiramente mecanicista
da Natureza) foi posto em questão pelo princípio
de indeterminação de Heisenberg;
- a relação entre a hipótese
e a experiência é o aspecto mais
decisivo da ciência. Nas palavras de Ian Hacking
[in A ciência tal qual se faz, p. 269
(elementos bibliográficos aqui),
que reproduz uma comunicação sua sobre
factos e hipóteses] "as pessoas
propõem hipóteses, mas os factos da
natureza determinam quais as hipóteses que
são aceitáveis e quais as erradas".
No entanto, a experiência científica
é selectiva (em relação aos aspectos
considerados relevantes) e, portanto e de certo modo,
criativa -- pelo que não oferece certeza absoluta;
- por considerarem fraca a prova pela simples confirmação,
alguns epistemólogos contemporâneos entendem
a verificação da hipótese como
a procura da sua refutação. O
grande defensor desta perspectiva é Popper:
recusando a o carácter indutivo da ciência,
Popper defende que a ciência parte da teoria
e não da observação e que o erro
é factor dinâmico de progresso: só
tem carácter científico a teoria que
for refutável, sendo que não se pode
demonstrar a verdade de nenhuma teoria científica,
mas apenas a sua falsidade;
- assim entendidas, as teorias são conjecturais
e provisórias -- acentuando-se ainda deste
modo o carácter aproximativo e probabilístico
da ciência.
- Alguns elementos de apoio:
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