Para uma primeira aproximação
à unidade, pode reflectir sobre algumas das suas
questões fundamentais.
Organize
as ideias procurando
- analisar o(s) significado(s) da palavra/conceito
sentido
(como significado, como finalidade ou
direcção, como contexto,
como valor, como razão de ser,
como conexão ou causa), aplicando-o(s)
às expressões sentido da vida,
sentido da existência humana...
Tenha em conta que, quando se pergunta pelo sentido
da vida humana, é da vida como um todo que
se trata. Como acentua Thomas Nagel, no último
capítulo (exactamente com o título O
sentido da vida) de Que quer dizer tudo isto?
[elementos bibliográficos aqui],
para a maior parte das coisas que fazemos na
vida existem justificações: comemos
porque temos fome, dormimos porque estamos cansados,
etc. (este é um sentido pragmático,
utilitário); mas nenhuma destas explicações
explica a finalidade da vida
como um todo (um sentido incondicionado, absoluto);
- construir uma posição pessoal
sobre o tema, considerando algumas das diversas respostas
à questão:
- a que nega que tal
sentido exista;
- a que encontra tal sentido no sagrado, na religião,
no absoluto, em Deus -- no transcendente.
- a que encontra esse sentido sem
o recurso à transcendência --
situando-o, por exemplo, na participação
em projectos políticos ou sociais: nos movimentos
ecologistas, em organizações de defesa
dos direitos humanos, etc..
Alguns recursos de apoio:
- No texto O sentido
da vida, Fernando Savater mostra que a pergunta
pelo sentido da vida tem um carácter religioso
e tenta reposicioná-la de modo a que fique filosoficamente
válida.
- A morte (e outras
situações-limite: o sofrimento, o mal,
a impotência face aos elementos naturais...) está
na génese da questão do sentido da existência.
O texto A transcendência
no romance San Manuel Bueno, Mártir de
Miguel de Unamuno liga os termos transcendência/morte/imortalidade.
- O livro de Jean-Paul
Sartre O Existencialismo
é um Humanismo (Editorial Presença)
sintetiza a posição do existencialismo
ateu do autor. O seu ponto de partida é a negação
da existência de Deus;
"tudo é permitido se Deus não existe;
fica o homem, por conseguinte, abandonado, já
não encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade
a que se apegue. (...) Assim, não temos nem atrás
de nós, nem diante de nós, o domínio
luminoso dos valores, justificações ou
desculpas. É o que traduzirei dizendo que homem
está condenado a ser livre, (...) está
condenado a cada instante a inventar o homem".
O homem é, portanto, um projecto; a sua vida
é simultaneamente contingente (porque submetida
ao aleatório), absurda
(porque sem justificação -- prévia),
embora coerente (pelas escolhas, obrigatórias,
operadas em função das situações).
- A encíclica A fé
e a razão (Fides et ratio) liga a
pergunta sobre o sentido da vida à pergunta sobre
a verdade, afirmando: "À primeira vista,
a existência pessoal poderia aparecer radicalmente
sem sentido. Não é preciso recorrer aos
filósofos do absurdo, nem às perguntas
provocatórias que se encontram no livro de Job
para duvidar do sentido da vida". Refere, depois,
entre outras razões para essa (aparente?) falta
de sentido, a experiência quotidiana do sofrimento,
os muitos factos inexplicáveis, a inevitabilidade
da morte. [Embora não seja importante para o
tema desta unidade -- a referida encíclica está
aqui].
Uma das actividades possíveis: a redacção
de um texto de reflexão pessoal
tomando como referências posições
como as seguintes:
- Olha a vida e sorri. E não te perguntes
para quê. Porque o mais extraordinário
dela é justamente não
ter para quê. Saber para quê é
dar-lhe uma finalidade conclusa, limitá-la, fechar-lhe
o seu excesso. Pensa assim que o seu absurdo é
a sua maior razão. (Vergílio Ferreira
- Pensar)
- No fim da consulta, desabafou:
-- A vida não tem sentido...
-- Ela, em si, não... -- respondi. -- Mas tem
o sentido que lhe damos.
Tem a nossa riqueza, o nosso entusiasmo, o nosso orgulho...
Ou a nossa covardia.
(Miguel Torga - Diário XII)
- "O 'sem-sentido' não se pode demonstrar,
nem viver. É tão-só contraditório.
Em termos gnosiológicos, e em termos ontológicos.
O homem é constitutivamente tensão-para
o Horizonte Absoluto. Por isso, quem se
contente com 'satisfações' particulares
vive necessariamente em deficit. (S. J. Formosinho
e J. O. Branco)
|