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Pretexto para este texto: o apoio à rubrica Da percepção à razão do programa do 11º ano (ano lectivo 2001/02) de Introdução à Filosofia
 
 

 

FACTORES da PERCEPÇÃO
 
Carlos AMORIM e outros

Introdução à Filosofia 11, p. 124-125 [elementos bibliográficos aqui]

 

Cada animal percebe no seu meio especialmente aquilo que lhe permite sobreviver, o que demonstra o carácter adaptativo da percepção. Se o homem possui uma riqueza perceptiva tão grande é porque é o mais desprotegido de todos os animais e necessita de utilizar mais meios que qualquer outro. Como disse o antropólogo A. Gehlen, o homem compensa as suas carências de adaptação ao ambiente (qualquer animal está perfeitamente adaptado a viver num meio ambiente determinado e o homem parece não estar adaptado a nenhum) por meio da acção. Quando o homem -- que tem postura erecta e gira a cabeça contemplando quanto o rodeia -- olha à sua volta, o que percebe são objectos nos quais se "insinuam" múltiplas utilizações e possibilidades de instrumentalização. Assim, por exemplo, ao chegar a um novo sítio -- um bairro, uma casa, um lugar de trabalho, um local onde acampar... -- o nosso olhar torna-se "circunspecto"; inspeccionamos "à nossa volta" para nos situarmos, reconhecermos os instrumentos "à mão", adivinharmos os caminhos, etc. Carregamo-nos de percepções, guardamo-las na memória (de maneira a "descarregarmo-nos" momentaneamente delas) e aí as temos como "disponíveis" para quando nos fizerem falta. Por isso nos perguntamos com tanta frequência: "Onde vi algo que podia servir para isto?" Se não está esquecido, recorremos quase automaticamente à utilização da memória e dos hábitos adquiridos. O mundo é nosso -- da humanidade -- porque ao percebê-lo pomo-lo já à nossa disposição.

(Campomanes, Introducción a la Filosofía)

A função adaptativa da percepção deriva de "mecanismos integrativos profundamente impressos no sistema nervoso como legado da evolução" (J. L. Pinillos).

Os fenómenos de constância perceptiva são uma prova desta herança que a espécie transporta impressa no sistema nervoso.

De facto, os estímulos variam mas nós reconhecemos o objecto muito pequeno que vemos no céu, como sendo um avião; sabemos que o fundo do copo é redondo ainda que o vejamos oval e não tememos que os carris paralelos do comboio se encontrem na próxima estação.

Os estímulos que recebemos variam, mas a percepção mantém-se constante -- se assim não acontecesse não sobreviveríamos, porque não reconheceríamos os objectos.

Além desta constância, a percepção caracteriza-se também por ser selectiva, já que o mundo do homem é extraordinariamente rico: variado, movimentado, colorido, sonoro... A atenção é o mecanismo pelo qual se efectua a selecção perceptiva. A atenção direcciona os nossos recursos mentais para o que nos interessa, porque o nosso cérebro não poderia processar toda a informação que recebe. É assim que, quando prestamos atenção a uma mensagem, antecipamos a entrada de informação de forma a conduzi-la correctamente.

Depois, para podermos interpretar a informação que nos é enviada do mundo, precisamos de esquemas cognitivos. Os esquemas aprendem-se e melhoram-se com a experiência. Percebemos quando damos significado a um objecto, isto é, quando o reconhecemos por meio de um esquema e o designamos por uma palavra. E porque a percepção está ligada à palavra, ela é um acto humano: aprende-se a perceber e, pela experiência, melhora-se a percepção -- por isso, a percepção varia de indivíduo para indivíduo conforme o seu modo, o seu estilo de conhecimento.

A percepção tem a marca da cultura. É que eu não estou sozinho no mundo -- há os outros que percebem o mundo, que me percebem a mim e que eu posso perceber e que põem em comum comigo o seu modo de perceber: por isso, eu posso perceber o que nunca experimentei.

Sobre o tema leia ainda os textos
percepções e sensações
significado de percepção
perspectiva psicogenética da actividade cognitiva

 
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