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Pretexto para este texto: o apoio à rubrica Da percepção à razão do programa do 11º ano (ano lectivo 2001/02) de Introdução à Filosofia
 
 

 

SIGNIFICADO de PERCEPÇÃO
 
Charles E. OSGOOD

Método e teoria na Psicologia experimental, p. 229-230 [elementos bibliográficos aqui]


Poder-se-á ter a experiência de uma sensação "pura"? É muito duvidoso que mesmo os introspeccionistas treinados com mais afinco tenham atingido tal grau de abstracção, embora muitos falem como se o tivessem conseguido. Certo é que uma pessoa pode prestar atenção a um estímulo que exerça pressão sobre o seu antebraço e descrever exaustivamente as suas sensações, mas, mesmo assim, aquele apresenta-se como uma "figura" projectada contra um fundo de outras sensações; continua, apesar de tudo, a ser percebido em relação a um quadro de referência significativo. Talvez que para a criança recém-nascida, conforme insistia William James, o mundo seja um aglomerado resplandecente e rumorejante de sensações puras sem organização, mas, na altura em que a criança for capaz de nos comunicar as suas experiências, a sua organização perceptiva ter-se-á tornado uma integração de muitas aptidões inconscientes. Qualquer coisa que se aproxime mesmo duma sensação pura constitui para o adulto uma experiência traumática: por vezes ligeiros movimentos da orelha de encontro à almofada produzem um som atroador, como o de carvão deslizando para uma cave ou de aviões aproximando-se. Até que, pela experiência imediata, se localize a origem dessa sensação -- que a sensação seja "posta no seu lugar", por assim dizer -- sente-se uma ansiedade crescente. Este dado não se ajusta a qualquer quadro de referência.

Quais são as características dos fenómenos que a maioria das pessoas designam por "fenómenos perceptivos"? As seis características seguintes podem auxiliar-nos a compreender o que o termo para elas significa. 1) Estes fenómenos envolvem a organização dos acontecimentos periféricos e sensoriais - olhando à nossa volta vemos objectos ordenados no espaço, e não simples aglomerações de pontos coloridos; 2) eles manifestam propriedades holísticas de tudo-ou-nada, isto é, um certo agrupamento de pontos ou linhas pode dar origem à percepção completa dum quadrado ou um cubo; 3) revelam constância em grau elevado - uma casa branca parece conservar essa cor apesar das imensas variações de luz à medida que o pino do meio dia se transmuda no crespúculo e na noite, mas 4) são também amplamente transponíveis - um estímulo triangular pode dirigir-se a muitas partes diferentes da retina sem perturbar a resposta; 5) eles operam selectivamente - para o organismo com fome, os objectos relacionados com a comida assumem qualidades de "figuras"; finalmente, 6) constituem processos muito flexíveis -- a configuração regular dum pavimento de azulejos preto e branco assume uma espantosa variedade de organizações temporárias quando o observamos.

Que é que todas estas características tomadas em conjunto implicam relativamente ao significado de "percepção"? O termo parece aplicar-se a) sempre que a experiência subjectiva varia apesar da constância dos fenómenos sensoriais subjacentes, ou b) sempre que essa experiência se mantenha constante apesar das variações dos fenómenos sensoriais. Por outras palavras, o termo "percepção" refere-se a uma série de variáveis que se interpõem entre a estimulação sensorial e a consciência, enquanto o último estado é indicado pela resposta verbal ou outra modalidade de resposta.


Sobre o tema leia ainda os textos
percepções e sensações
factores da percepção
perspectiva psicogenética da actividade cognitiva


 
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