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Pretexto para este texto: o apoio à rubrica Da percepção à razão do programa do 11º ano (ano lectivo 2001/02) de Introdução à Filosofia
 
 

 

PERSPECTIVA PSICOGENÉTICA
da ACTIVIDADE COGNITIVA
 


[O desenvolvimento intelectual, que leva da inteligência ao pensamento] ocorre em quatro estádios, que Piaget caracteriza da forma que se segue:

  1. 1.° Período: Inteligência sensório-motora (até aos dois anos).

    No princípio, só há actos reflexos, que se vão aperfeiçoando e generalizando.

    Depois, os reflexos organizam-se em hábitos: a criança distingue as imagens e, seguidamente, coordena o movimento com a percepção -- agarra objectos.

    O terceiro momento é marcado pela inteligência prática, que utiliza objectos presentes e movimentos. Usa procedimentos semelhantes aos animais para resolver problemas e não fala -- quer dizer que só há imagens que aparecem e desaparecem; ainda não há conceitos.

    Progressivamente, vai distinguindo o seu corpo daquilo que o rodeia.

  2. 2.° Período: Representação pré-operatória (dos dois aos seis anos).

    Aprende a linguagem: vai poder contar as acções do passado e antecipar acções futuras; vai poder falar com os outros e consigo própria -- e fala sobretudo consigo própria; é o pensamento que emerge. E, ao mesmo tempo, vai dar-se a emergência de dois mundos: o mundo social e o mundo interior.

    Mas a criança é, ainda, egocêntrica, quer dizer que ainda assimila as experiências do mundo exterior ao modelo do seu mundo interior.

  3. 3.° Período: Operações concretas (dos sete aos onze anos).

    A criança adquire a capacidade de fazer operações mentais, mas concretas -- "poder-se-ia dizer que as crianças pensam 'com os olhos e com as mãos'" (Campomanes). Ao mesmo tempo, realiza um afastamento do egocentrismo característico do período anterior e é a capacidade de se colocar no lugar do outro que, agora, se evidencia.

  4. 4.° Período: Operações formais (a partir dos doze anos).

    A partir desta altura, é capaz de fazer operações sem o suporte da percepção ou sem a necessidade de manipular objectos. Passa a realizar operações a um nível absolutamente verbal ou conceptual. Dá-se a substituição dos objectos por proposições e manifesta-se um uso e abuso da reflexão, da teorização e da construção de hipóteses, no dizer de Piaget, que acrescenta: "Mas existe um egocentrismo intelectual da adolescência que (...) só se manifesta mediante a crença no infinito poder da reflexão, como se o mundo devesse submeter-se aos sistemas e não os sistemas à realidade".

Conclui-se, assim, todo um processo com vista à adaptação à realidade, progressivamente mais rigorosa.

(AMORIM, Carlos; AGUIAR, M. Isabel Chorão; MOREIRA, M. Margarida. Introdução à Filosofia 11, p. 128-129 [elementos bibliográficos aqui]

 

O CONHECIMENTO COMO PROCESSO ADAPTATIVO:
ASSIMILAÇÃO E ACOMODAÇÃO

Como todo o conhecimento é uma acção e um aspecto essencial da acção em geral, os conceitos mais básicos pelos quais é abordado são os conceitos básicos pelos quais a biologia aborda toda a acção. Ora toda a conduta de um ser vivo é um processo de adaptação. Esta adaptação é simultaneamente assimilação, isto é, o trabalho do ser vivo para modificar o meio de acordo com as suas necessidades e de acomodação -- as modificações do ser vivo para melhor se adequar ao ambiente e responder aos seus desafios.

Todos os seres vivos nascem equipados com uma série de respostas instintivas a certos estímulos. Tais instintos não só são necessários à sobrevivência do indivíduo como são a base do conhecimento; primeiro porque, como todo o conhecimento, são um modo de abordar e reagir ao meio, ou seja, constituem uma espécie de "perspectiva inconsciente" sobre o que é a realidade e o que se pode esperar dela, uma "interpretação" dos acontecimentos, e uma espécie de conjectura sobre o que seja uma resposta adequada; em segundo lugar, se seguirmos o exercício dessas respostas instintivas, descobrimos, com Piaget, todo o processo que origina as formas de conhecimento mais complexo.

Os instintos ou reflexos inatos (mas não todos) dão origem, em primeiro lugar, aos esquemas.

Os esquemas são as unidades básicas do intelecto. Definem-se como sendo padrões de acção, padrões de resposta às situações, e portanto, organizam a nossa relação com o meio. Nas suas primeiras semanas de vida, por exemplo, a criança dispõe de vários esquemas baseados em reflexos inatos como o chuchar e o agarrar. Enquanto se trata de reflexos, o chuchar e o agarrar são apenas respostas maquinais e executadas sempre do mesmo modo. Porém, o exercício gera modificações visando adaptações cada vez mais bem conseguidas. Os esquemas não deixarão de existir, evoluirão em complexidade e darão lugar aos conceitos. Os conceitos são os padrões de resposta mas agora transpostos, mediante a linguagem, ao nível do pensamento.

Os esquemas ocorrem no processo de assimilação, que consiste na aplicação dos esquemas já adquiridos [o meio é apreendido e integrado pelos esquemas e estruturas do sujeito]. Por exemplo: a criança não chucha apenas o mamilo, mas também a chucha, o cobertor, o dedo, qualquer objecto. Tudo se passa, como diz Piaget, como se o bebé tivesse uma teoria — o mundo é uma realidade a chuchar — e a aplicasse continuamente. Vai assim, através dessa "prática", adquirindo informação sobre os objectos do seu ambiente, assimilando essa informação ao seu esquema.

Mas esta aplicação dos esquemas é também um espécie de "teste" a esses mesmos esquemas originando a acomodação, isto é, a modificação e diversificação dos esquemas existentes para tentar resolver os problemas postos pelo meio [as estruturas do sujeito são modificadas em função das situações particulares].

(RODRIGUES, Luís. Introdução à Filosofia: 11º ano, p. 214-215 [elementos bibliográficos aqui])

 

Sobre o tema leia ainda os textos
percepções e sensações
significado de percepção
factores da percepção

 
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