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Pretexto para este texto: o apoio à rubrica Da percepção à razão do programa do 11º ano (ano lectivo 2001/02) de Introdução à Filosofia
 
 

 

PERCEPÇÕES e SENSAÇÕES
 
Charlotte BÜHLER

A Psicologia na vida do nosso tempo, p. 93-94 [elementos bibliográficos aqui]
O que é uma percepção?

O que é uma percepção em comparação com uma sensação? A seguinte experiência esclarecerá a diferença.

Diante da observadora (trata-se de experiências realizadas no Instituto de Psicologia de Viena, por O. Rubinow e L. Frankl) encontra-se uma criança de dois meses que retribui o sorriso da senhora, com um sorriso. Agora a observadora segura um biberão com leite a alguma distância dos olhos de Pepi. Embora o biberão se encontre dentro do campo visual de Pepi e ele o fixe, não dá sinal de reconhecê-lo. Só quando a observadora agarrar em Pepi e o puser no colo do modo habitual, ele começará a mamar, ainda antes de ela colocar o biberão dentro do seu campo visual.

Mas dois ou três meses mais tarde tudo é completamente diferente. Agora Pepi já começa a mamar vivamente quando o seu olhar incide sobre a ponta da tetina do biberão mantido a alguma distância dele. Agora a criança reconheceu o biberão como objecto.

Ë certo que ainda são necessários determinados sinais característicos, como a ponta da tetina, para levar Pepi a reagir. Ele não mama se lhe mostrarmos um balão cheio de leite. Só alguns meses mais tarde é que ele reconhece o seu alimento também em recipientes que sejam diferentes do biberão habitual, quer na forma quer na cor. Ele apreende a pouco e pouco toda a situação.

Desta descrição de experiências para a investigação das primeiras vivências de objectos resulta uma série de factos.

O bebé de dois meses vê, ouve, saboreia e cheira, tem sensações de tacto e de dor e de muita coisa mais. Mas não se apercebe ainda do objecto como todo. Quando começa a aperceber-se dele, inicialmente apenas se apercebe de determinadas características de configuração, como o bico ou o facto de ser redondo. Identifica o objecto através de características por vezes de pouca importância. Só a pouco e pouco separa a apreensão do objecto "recipiente de alimento" dos diversos dados acidentais. Apreende o objecto no todo da situação que alude à mamada que se segue.

Por percepção designamos, pois, um fenómeno complexo, através do qual o mundo exterior é apreendido e interpretado como sendo ordenado em totalidades. Estímulos presentes assim como experiências do passado são integrados e elaborados na visão de conjunto.

A evolução da constância do objecto

O processo da evolução da percepção, como é fácil de compreender, prolonga-se através de anos, uma vez que se tem de apreender inúmeras características e inclui-las pouco a pouco na percepção. Ilustraremos isto com um exemplo duma fase um pouco mais tardia.

Pepi tem agora três anos e vai passear com o pai. Passeiam por uma longa alameda composta de álamos. "Paizinho", diz Pepi e indica com o dedo para longe, "porque é que lá longe as árvores são tão pequenas?" O pai compreende que o seu filho ainda não aprendeu a ter em conta a diminuição de perspectiva à distância e vai agora tentar explicar-lha.

Mas apesar desta explicação ainda levará alguns anos até que a criança possa interpretar correctamente as sensações, com todos os factores que nelas influem, isto é, as interprete de acordo com a situação objectiva. Coisas que mais tarde nos parecem evidentes -- por exemplo, que a luz e a sombra, a situação e a distância não nos impedem essencialmente de reconhecer cores e formas e de calcular tamanhos -- tais coisas só se aprendem lentamente. Egon Brunswik e Sylvia Klimpfinger verificaram que estes factores de constância, como são designados, portanto a apreensão da constância de tamanho, cor, forma, só chegam ao ponto máximo da sua evolução entre os 10 e os 14 anos. O espaço, o tempo e o movimento são incluídos, no decorrer da infância, na experiência e gradualmente tidos na devida conta. A capacidade receptiva, a memória e a inteligência desempenham aqui um papel e também as motivações não deixam de ter influência sobre o modo como nos apercebemos do mundo exterior.

Sobre o tema leia ainda os textos
significado de percepção
factores da percepção

perspectiva psicogenética da actividade cognitiva

 
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