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nb: pode ler ainda, n'O Canto, Bachelard -- o filósofo e o poeta. |
"1. Filósofo original, foi sucessivamente funcionário dos correios e professor de física antes de obter uma cátedra na universidade. Gaston Bachelard (1884-1962) exerceu uma profunda influência sobre os pensadores contemporâneos através do ensino na Faculdade de Letras de Dijon (1930-1940), depois na Sorbonne, e através da sua obra literária e científica. 2. Os trabalhos de Gaston Bachelard debruçaram-se ao mesmo tempo sobre a poesia e a ciência, acerca das quais verifica que os eixos são inversos. O «homem pensativo», que segue a vertente da subjectividade, opõe-se ao «pensador», que obedece ao princípio da objectividade. Mas esta oposição não exclui uma complementaridade. A fantasia subjectiva preparou o caminho para a ciência. É o que revela uma psicanálise do conhecimento objectivo e, mais particularmente, o estudo dos símbolos suscitados pelos elementos naturais. Gaston Bachelard trata estes problemas numa série de obras: «A Psicanálise do Fogo» (1937), «L'Eau et les rêves» (1941), «L'Air et les songes» (1943), etc. 3. Complementar do imaginário, o racional constitui o outro grande tema das reflexões de Bachelard, cujos trabalhos renovaram a filosofia das ciências. Rompendo com os pressupostos filosóficos das epistemologias clássicas que permanecem fiéis aos esquemas mecanistas da ciência (saídos da geometria euclidiana, do método cartesiano e da física newtoniana), descreve um «Novo Espírito Científico» (título do seu livro publicado em 1943), baseado na análise das geometrias não euclidianas e da relatividade de Einstein. 4. A revolução que se produziu nas ciências fundamentais no fim do século XIX e princípios do século XX levou, segundo Gaston Bachelard, a repensar as relações entre a razão e a experiência. A experiência já não pode ser considerada como uma simples verificação da hipótese que, ela própria, seria directamente sugerida pela observação, como queria o empirismo. O caminho da ciência moderna vai do racional ao real. Começa pela construção teórica abstracta e produz racionalmente um processus experimental. 5. Mas uma tal reflexão esclarece também o passado da ciência. A epistemologia bachelardiana, que pretende ser um estudo científico da história das ciências, empenha-se em mostrar que a ciência procede por descontinuidade. Cada progresso é um «corte» em relação a um saber anterior que se pode revelar inteiramente ultrapassado. 6. Dum modo mais global, o espírito científico procede por cortes relativamente aos «obstáculos epistemológicos» que constituem as imagens e os símbolos do pensamento ingénuo e da tradição cultural, assim como as aparências sensíveis fornecidas pela experiência espontânea. Mas a própria herança científica serve de exemplo ao novo espírito científico. Eis porque Gaston Bachelard preconiza uma verdadeira estratégia do corte epistemológico, o que ele chama uma «filosofia do não». O investigador é o que trabalha na rectificação do saber. 7. Pode-se considerar como uma extensão do tema do corte epistemológico à história das ideias a obra do filósofo Michel Foucault («As Palavras e as Coisas»), que insiste nas rupturas e descontinuidades entre as configurações segundo as quais se organizam ao longo dos séculos o saber e as práticas humanas."
(A Filosofia. Lisboa : Dom Quixote. 1978) |
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