Escola Secundária de Emídio Navarro - Viseu
12º Ano de Escolaridade

Duração da prova: 90 min + 30 min. de tolerância
Outubro de 2000

PROVA ESCRITA DE FILOSOFIA



 
 

 

Antes de iniciar as suas respostas, leia atentamente toda a prova.

GRUPO I

 
A VIDA É RISCO E A FILOSOFIA TAMBÉM 

A vida é risco e a filosofia também. 

Risco de errar, de deambular perdida à procura de um lugar onde possa estar, é risco de voltar de mãos vazias como se a sua identidade própria se esvaziasse de repente. 

É risco de ficar no avesso das coisas, no reverso das gentes, no outro lado de lá. É risco de esperar, desesperadamente, de andar às voltas não saindo do mesmo lugar, é risco de compromissos enredados, de apostas fascinantes, de tentações sem futuro. 

A filosofia que se compromete, que afronta a neutralidade oficial das etiquetas exibidas pela respeitabilidade institucional, terá de assumir-se como risco. 

Mas risco que não seja à partida inútil ou ineficaz. Risco que lhe dê um sentido actuante, um destino de luta, um projecto axiológico. Risco que penetre na raiz das coisas e das gentes, procurando o ponto de partida da nossa aculturação plasmada no quotidiano que todos os dias vamos vivendo. Descobrir a raiz, interpretá-la sem receio das ortodoxias circulantes, descobrir-lhe a significância ou a insignificância, desvendamento do solo que pisamos, do ar que respiramos, do mundo em que vivemos. 

Mas uma filosofia que se assume como risco terá de arriscar-se a ser "uma" filosofia e não a filosofia. 

"Uma" filosofia que será uma totalização entre várias, sem a pretensão da exclusividade da Verdade, sem o monopólio de uma "universalidade" absolutamente única. 

Uma filosofia assim, arrisca-se à polémica com um arsenal provisório, com erros prováveis e verdades ainda por encontrar. 

Uma filosofia que se assume como risco não se deixa confundir com a Razão, não exibe a máscara da invulnerabilidade, do acabado de uma vez para sempre, da sistematização fechada. Uma filosofia desta índole compromete-se no diálogo com outras filosofias, permanece na pluralidade de outras totalizações possíveis, permanece aberta à mudança, à rectificação necessária, ao ponto de vista do "outro", à perspectivação diversificada. 

Uma filosofia que se assume como risco arrisca-se mesmo à pluralidade sem medo de perder, porque perder, neste caso, é quase sempre ganhar. 

A infalibilidade não é, de facto, característica consentânea com a precaridade decorrente da condição humana. 

(Maria Carmelita HOMEM DE SOUSA, As Ilusões da Razão, Porto, Brasília Editora, 1986, pp. 170-171) 
QUESTÃO:

Dimensione, com clareza, o conjunto de problemas expostos no texto. 
 
 

GRUPO II

GÓRGIAS, PLATÃO

"(...) De que persuasão é a retórica a arte e sobre que incide esta persuasão? Não achas razoável esta pergunta? " 

(454 b, Lisboa, Edições 70, 1992, p. 58) 

  QUESTÃO:

Referindo o horizonte da obra, explicite o alcance das perguntas do texto. 
 
 

GRUPO III

(...) Os sofistas cortaram o logos de qualquer relação com a transcendência donde se dizia que ele provinha; a partir daí, a retórica pôde apresentar-se como uma arte de justificar tudo, de sustentar tudo, de misturar qualquer ideia com qualquer outra, de fazer das palavras os servidores dóceis de qualquer egoísmo. Arte da lisonja, arte do orador, arte do tribuno da opinião pública, a retórica surge como a técnica da persuasão, acção psicológica ao serviço de todos os oportunismos, de todos os interesses individuais que fazem do homem a medida de todas as coisas. 

Esta degenerescência do logos na retórica permitiu um crime: a morte de Sócrates. Sócrates, grande mestre da linguagem no diálogo, foi vencido pela própria linguagem (...). 

Escandalizado pela morte de Sócrates, Platão quis moralizar a política; o problema está em saber se existe ou não o perigo de vermos produzir-se um movimento inverso, que seria o da politização da moral. 

(Jean Brun, Platão, Dom Quixote, Lx. 1983) 
QUESTÃO:

A partir de uma análise crítica dos textos, desenvolva apenas um dos temas abaixo indicados: 

A. Filosofia, para quê? 
B. E se vivêssemos para sempre? [ler resposta do Tiago Almeida (12º M)]
C. Palavra e poder [ver textos de alunos sobre o poder da palavra]
INSTRUÇÕES, CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO E COTAÇÕES
 

GRUPO I
  • A sua resposta não deverá exceder 25 (vinte e cinco) linhas.
  • A inadequação da sua resposta à questão formulada implica uma pontuação de 0 (zero) pontos.
  • A sua resposta será classificada atendendo aos seguintes aspectos: 
    • rigor da análise do texto apresentado
    • coerência lógica do discurso 
    • utilização precisa da terminologia filosófica
    • correcção da expressão escrita.
    Cotação - 50 pontos
GRUPO II
  • A sua resposta não deverá exceder 35 (trinta e cinco) linhas.
  • A inadequação da sua resposta à questão formulada implica uma pontuação de 0 (zero) pontos.
  • A sua resposta será classificada atendendo aos seguintes aspectos: 
    • rigor da análise do texto apresentado
    • mobilização adequada dos conhecimentos já adquiridos sobre Platão
    • coerência lógica do discurso
    • utilização precisa da terminologia filosófica
    • correcção da expressão escrita.
    Cotação: 70 pontos
GRUPO III
  • A resposta deverá ter aproximadamente 75 (setenta e cinco) linhas, incluindo o plano orientador.
  • A inadequação da resposta à questão formulada implica uma pontuação de 0 (zero) pontos. 
  • A sua resposta será avaliada atendendo aos seguintes aspectos: 
    • adequação do desenvolvimento ao plano
    • pertinência da selecção dos conhecimentos da obra para o tratamento do tema
    • posicionamento crítico/problematizador
    • coerência lógica do discurso
    • utilização precisa da terminologia filosófica
    • correcção da expressão escrita.
    COTAÇÃO: 80 pontos
FIM

 
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12º ano


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