A VIDA É RISCO E A FILOSOFIA TAMBÉM
A vida é risco e a filosofia
também.
Risco de errar, de deambular perdida à procura de um lugar onde
possa estar, é risco de voltar de mãos vazias como se a sua
identidade própria se esvaziasse de repente.
É risco de ficar no avesso das coisas, no reverso das gentes,
no outro lado de lá. É risco de esperar, desesperadamente,
de andar às voltas não saindo do mesmo lugar, é risco
de compromissos enredados, de apostas fascinantes, de tentações
sem futuro.
A filosofia que se compromete, que afronta a neutralidade oficial das
etiquetas exibidas pela respeitabilidade institucional, terá de
assumir-se como risco.
Mas risco que não seja à partida inútil ou ineficaz.
Risco que lhe dê um sentido actuante, um destino de luta, um projecto
axiológico. Risco que penetre na raiz das coisas e das gentes, procurando
o ponto de partida da nossa aculturação plasmada no quotidiano
que todos os dias vamos vivendo. Descobrir a raiz, interpretá-la
sem receio das ortodoxias circulantes, descobrir-lhe a significância
ou a insignificância, desvendamento do solo que pisamos, do ar que
respiramos, do mundo em que vivemos.
Mas uma filosofia que se assume como risco terá de arriscar-se
a ser "uma" filosofia e não a filosofia.
"Uma" filosofia que será uma totalização entre
várias, sem a pretensão da exclusividade da Verdade,
sem o monopólio de uma "universalidade" absolutamente única.
Uma filosofia assim, arrisca-se à polémica com um arsenal
provisório, com erros prováveis e verdades ainda por encontrar.
Uma filosofia que se assume como risco não se deixa confundir
com a Razão, não exibe a
máscara da invulnerabilidade, do acabado de uma vez para sempre,
da sistematização fechada. Uma filosofia desta índole
compromete-se no diálogo com outras filosofias, permanece na pluralidade
de outras totalizações possíveis, permanece aberta
à mudança, à rectificação necessária,
ao ponto de vista do "outro", à perspectivação diversificada.
Uma filosofia que se assume como risco arrisca-se mesmo à pluralidade
sem medo de perder, porque perder, neste caso, é quase sempre ganhar.
A infalibilidade não é, de facto, característica
consentânea com a precaridade decorrente da condição
humana.
(Maria Carmelita HOMEM DE SOUSA, As Ilusões
da Razão, Porto, Brasília Editora, 1986, pp. 170-171)
QUESTÃO:
Dimensione, com clareza, o conjunto de problemas expostos no texto.
GRUPO II
GÓRGIAS,
PLATÃO
"(...) De que persuasão é
a retórica a arte e sobre que
incide esta persuasão? Não achas razoável esta pergunta?
"
(454 b, Lisboa, Edições 70, 1992, p. 58)
QUESTÃO:
Referindo o horizonte da obra, explicite o alcance das perguntas do
texto.
GRUPO III
(...) Os sofistas cortaram o logos
de qualquer relação com a transcendência
donde se dizia que ele provinha; a partir daí, a retórica
pôde apresentar-se como uma arte de
justificar tudo, de sustentar tudo, de misturar qualquer ideia
com qualquer outra, de fazer das palavras
os servidores dóceis de qualquer egoísmo.
Arte da lisonja, arte do orador, arte do tribuno da opinião pública,
a retórica surge como a técnica da persuasão, acção
psicológica ao serviço de todos os oportunismos, de todos
os interesses individuais que fazem do homem a medida de todas as coisas.
Esta degenerescência do logos na retórica permitiu um crime:
a morte de Sócrates. Sócrates,
grande mestre da linguagem no diálogo,
foi vencido pela própria linguagem (...).
Escandalizado pela morte de Sócrates, Platão quis moralizar
a política; o problema está
em saber se existe ou não o perigo de vermos produzir-se um movimento
inverso, que seria o da politização da moral.
(Jean Brun, Platão, Dom Quixote, Lx. 1983)
QUESTÃO:
A partir de uma análise crítica dos textos, desenvolva
apenas um dos temas abaixo indicados:
A. Filosofia, para quê?
B. E se vivêssemos para sempre? [ler
resposta do Tiago Almeida (12º M)]
C. Palavra e poder [ver textos
de alunos sobre o poder da palavra]