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Em epistemologia designa uma relação necessária entre uma causa e o seu efeito, a causalidade que liga cada acontecimento a um outro (é esta causalidade que o cientista pretende conhecer estabelecendo leis). Aplica-se antes de mais aos acontecimentos da natureza e, enquanto necessidade cognoscível, opõe-se ao destino, uma lei cega que escapa ao homem.
Teoria segundo a qual todos e cada um dos acontecimentos do universo estão submetidos a um sistema de causas e efeitos necessários -- mesmo aqueles factos que parecem, de algum modo ilusório, serem resultado da liberdade e da vontade. Entre os defensores do determinismo, há quem aplique a teoria apenas a uma parte da realidade -- há quem a estenda a todos os acontecimentos, incluindo as acções humanas.
Algumas pessoas pensam que nunca é possível fazermos qualquer coisa diferente daquilo que de facto fazemos neste sentido absoluto. Reconhecem que aquilo que fazemos depende das nossas escolhas, decisões e desejos e que fazemos escolhas diferentes em circunstâncias diferentes: não somos como a Terra, que roda no seu eixo com monótona regularidade. Mas afirmam que, em cada caso, as circunstâncias que existem antes de agirmos determinam as nossas acções e tornam-nas inevitáveis. O total das experiências, desejos e conhecimentos de uma pessoa, a sua constituição hereditária, as circunstâncias sociais e a natureza da escolha com que a pessoa se defronta, em conjunto com outros factores dos quais pode não ter conhecimento, combinam-se todos para fazerem com que uma acção particular seja inevitável nessas circunstâncias.
Esta perspectiva chama-se determinismo. A ideia não consiste em que podemos conhecer todas as leis do universo e usá-las para prevermos o que irá acontecer. Em primeiro lugar, não podemos conhecer todas as circunstâncias complexas que afectam uma escolha humana. Em segundo lugar, mesmo quando chegamos a saber alguma coisa acerca dessas circunstâncias e tentamos fazer uma previsão, isso já é uma alteração nas circunstâncias, o que pode alterar o resultado previsto. Mas a previsibilidade não é o que está em questão. A hipótese é que existem leis da Natureza, tal como aquelas que governam o movimento dos planetas, que governam tudo o que acontece no mundo e que, de acordo com essas leis, as circunstâncias anteriores a uma acção determinam que ela irá acontecer e eliminam qualquer outra possibilidade.
Se isso é verdade, então mesmo enquanto estavas a decidir que sobremesa irias comer já estava determinado pelos muitos factores que operavam sobre ti e em ti que irias escolher o bolo. Não poderias ter escolhido o pêssego, apesar de pensares que podias fazê-lo: o processo de decisão é apenas a realização do resultado determinado no interior da tua mente.
Se o determinismo é verdadeiro para tudo o que acontece, já estava determinado antes de nasceres que havias de escolher o bolo. A tua escolha foi determinada pela situação imediatamente anterior, e essa situação foi determinada pela situação anterior a ela, e assim sucessivamente, até ao momento em que quiseres recuar.
(Thomas Nagel - Que quer dizer tudo isto?, p. 49-50 [elementos bibliográficos aqui]. Nagel dedica um capítulo [o 6º] à análise do livre arbítrio, confrontando-o com o determinismo.)
[Actualização
a 02/03/09]
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