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A ideia de ser
"A ideia de ser, tem-se dito, é a mais alta
abstracção a que o homem
pode chegar, depois que desproviu os seres singulares de tudo o que os
distingue e faz deles seres determinados. A ideia de ser é,
assim, uma ideia de extensão
máxima e de compreensão
mínima: de extensão máxima, porque, sendo a ideia
mais abstracta possível, convém a tudo o que é ou
pode ser; de compreensão mínima, porque abstrai de toda
e qualquer característica ou qualidade particular. Deste modo,
ao ser nada se pode acrescentar, pois tudo o que existe ou pode existir
é ser. Todos os seres singulares
são o ser, mas cada um é-o de um modo peculiar. Admitindo
que os seres singulares são espécies
de seres, alguns autores afirmam que o ser em geral é um género
supremo. Outros, porém, contestando tal parecer, sustentam que
o ser não é um género mas uma noção
que, transcendendo ou superando todas as categorias do ser, se aplica
a tudo o que pode existir ou existe de qualquer modo. É por isso
que alguns metafísicos afirmam que a ideia de ser é imanente
a todas as categorias (na medida em que todas participam do ser) e ao
mesmo tempo transcendente a todas (na medida em que as supera a
todas). E acrescentam: a ideia de ser transcende não só
cada uma das categorias do ser considerada de per si, mas ainda todas
as categorias em conjunto, porque abrange não só todos os
seres finitos, que se dividem em categorias, mas ainda o Ser infinito,
que está acima das categorias.
Quando
considerado em si mesmo, e de um modo absoluto, do ser nada se pode dizer
senão que é o ser. Quando
considerado em si mesmo, mas agora não já de um modo absoluto
mas de um modo negativo, pode dizer-se do ser que ele é em si mesmo
indiviso, isto é, uno.
O
ser é tudo o que, em qualquer grau, se opõe ao nada. Tudo
o que é ser é uno e indiviso. O ser, dizem os metafísicos,
é uno e transcendente."
(MAGALHÃES-VILHENA, V. de - Pequeno Manual de Filosofia.
5ª ed. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1977, p. 602-603)
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